sexta-feira, maio 15, 2009

PALMO EM CIMA



Cartas de amor
Também ficam Sem Cor
quando Sem Perfume fica a vida
perde-se o tom, a luz
como um jardim Sem Margarida.

(Rita Melém)

Caio Fernando Abreu, nosso Caio F., é um escritor potencialmente complexo. Difícil? Talvez. Verdadeiro? Totalmente.há na sua escrita uma empatia tal que nos torna cúmplices de seus personagens e idéias. São pessoas que amam, matam, choram, gozam, enfim, vivem, garantindo então essa identificação ao som de Adriana Calcanhoto.
Por isso, para falar de tudo quando Sem Cor, Sem Perfume, Sem Margarida, o mais recente trabalho da Companhia Nós do Teatro quer falar, há e se ter verdade. E se ela existe em Antípodas e Uma História Confusa (os contos de Caio F.) e nos de Neto, como nos versos de Neto, Larissa e Rita Melém, vaga em cena. Falta ao trio de atores uma propriedade cênica que vai além de um bom texto e de um corpo disposto. Benone nos deixa muito à vontade para ver o espetáculo e igualmente deixou seus atores em zonas muito confortáveis. É preciso cuidar de tons muito agudos e fortes ao falar, ou muito baixos – mas não introspectivos –, de dizer do desejo sem o toque óbvio. Há que se dar ao espetáculo todo a mesma graça precisa de quando ao som de Vuelvo aos Sur – o ponto alto do trabalho! – as histórias dos personagens parecem que vão se encaminhar. É preciso assumir o triângulo amoroso e a paixão a que se propuseram.
Sem Cor, Sem Perfume, Sem Margarida tem uma encenação espartana e signos para os quais eu ainda busco sentido, mas o que mais grita para mim mesmo é a falta de precisão dos atores. Precisão que nasce da técnica e que obrigatoriamente precisa extrapolá-la para não ser um arremedo de realidade.
De algum paraíso, junto aos seus dragões, Rodrigues Neto (VER Brocardos (1), um dos fundadores da Nós do Teatro e grande homenageado com este espetáculo, deve estar meditando sobre isso e certamente vai lhes encher a cabeça de borboletas. Muitas. Negras;
Tomara!

FICHA TÉCNICA: Sem Cor, Sem Perfume, Sem Margarida. Texto a partir de poemas de Rodriguez Neto e Larissa Latif e de contos de Caio Fernando Abreu e Rodriguez Neto. Com: Jéssica Mirley, Markson de Moraes e Will Júnior. Iluminação: Sônia Lopes, Sonoplastia:Hélio Saraiva, Arte: Jéssica Mirley, Cenografia, figurino e direção: Beto Benone.Teatro Waldemar Henrique, 08, 09 e 10 de maio de 2009, 20h00.

HUDSON ANDRADE
11 de maio de 2009 AD
17h00

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