Apaga-te, ó delicada chama! Apaga-te!A vida é sombra passageira. Um mísero ator que chega, agita a cena inteira, diz sua fala e sai. e ninguém mais o nota. MACBETH (William Shakespeare)
sexta-feira, agosto 29, 2008
BROCARDOS (04)
Não é preciso repetir toda a bomba química que o cigarro é nem os malefícios que ele provoca. Todo mundo sabe disso! O que precisa ser discutido numa data dessas são os direitos dos não-fumantes.
Logo eu, contrário a toda forma de intolerância, vou cometer e incentivar uma: toda sanção contra os fumantes é pouca!
Todo tabagista tem um discurso pronto de liberdade e direitos, um sentimento discriminatório por permanecerem “enjaulados” em salinhas de aeroporto, “escorraçados” de lojas e restaurantes (os sérios, claro!) e ainda ter que andar em círculos nas ruas para que a fumaça não se concentre e incomode outrem. Ainda assim as partículas dispersas no ar permanecem no ambiente e o que já é danoso passando pelo filtro do cigarro se torna avassalador para os ditos fumantes passivos.
Pergunto: E o meu direito de não ter minhas roupas e cabelos empestados de fumaça, minha comida e bebida amargados, minha rinite potencializada e meus olhos avermelhados? A única pessoa que o fumante respeita é outro fumante, de vez que um ser humano diverso é sumariamente desconsiderado, esteja ele intra-uterinamente, seja um sexagenário.
Fumar é uma dessas muletas que nós, pessoas, usamos para camuflar nossas dores e dificuldades, tanto quanto o álcool, a comida, fofoca, sexo. Como tudo que vira um vício, lesivo, não importa quanto prazer (sempre momentâneo) ele produza.
No Dia Nacional de Combate ao Fumo o que fica tácito é a falta é educação e respeito, o individualismo de quem quer gozar a despeito da intranqüilidade alheia.
Nessa data eu só peço uma coisa aos fumantes: Vão fumar com o sete peles que é imortal!!!
Hudson Andrade
29 de agosto de 2008.
12h41
quarta-feira, agosto 27, 2008
E ECOA NOITE E DIA. E É ENSURDECEDOR...
As vozes negras...
O riso das crianças...
As cirandas...
A rua se abre para deixar passar quem dela fez palco e vida.
A Companhia Brasileira de Cortejos inaugura suas atividades com o espetáculo No Olho da Rua. Miguel Santa Brígida, que também dirige a Companhia Atores Contemporâneos e está na rua desde 1986 com o Auto do Círio, entre outros, conhece bem o que é estar junto ao povo e interferir nos seus caminhos.
O afro, a quadrilha, o carnaval, a religiosidade não são novidades, assim como a música alta, estranha e estrangeira; o começo nu onde se vão aplicando elementos coloridos que explodem em brilhos e fitas também está lá, marcas tão profundas quanto os movimentos dos intérpretes. A novidade nãoé só o nome, ma sobretudo o acolhimento que os moradores da Rua Dr. Malcher, na Cidade Velha e a administração do colégio D. Mário deram ao grupo, recebendo-os e acompanhando-os atentos, cantarolando os versos repetidos tantas noites. Novidade é o Miguel ir na contramão e abdicar de qualquer incentivo oficial pela tranqüilidade e liberdade de trabalhar, ainda que ao custo próprio,contando sempre com valorosos apoios conquistados pelo seu talento e dedicação à arte, e ainda oferecer tudo isso de graça a um público desacostumado de ver teatro como ofício. Novidade não é fazer da rua o palco, mas o sentido do espetáculo, sua inspiração e razão.
No Olho da Rua é uma colcha de sentimentos. Belo nas suas fitas, pedras falsas, seus sonhos de valsa, ou seus cortes de cetim. É preciso estar atento às tantas sensações de carinho, amor, separação, ódio, solidão, paixão, erotismo, sempre tendo a via pública como a cama, o ponto de partida, ou o caminho de volta.
O cortejo vem pela rua, confirmando sua vocação. Originalmente ele saia de uma garagem, mas um contratempo alterou o ensaio e o resultado alterou a encenação. Entendo o novo sentido dado, mas penso que sair para a rua é mais significativo dentro da história desses atores e seu diretor.
Os intérpretes igualmente oriundos da Companhia Atores Contemporâneos têm novos desafios. Acostumados a dar ao movimento o status de rei,precisam agora integrá-lo à palavra. Os textos de Hudson Andrade e os poemas de Mário Quintana e Drummond carecem de nuances e precisão que, peso, serão garantidos com o curso da temporada e os próximos trabalhos.
Atentem para o belíssimo figurino de Guilherme Repilla e Miguel Santa Brígida, as máscaras de Bruce Macedo, a impressionante interpretação de Canto das Três Raças (Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte, 1974, consagrada na voz de Clara Nunes) pela Sônia Santos. Onde se esperaria o som imenso dos tambores só a voz pungente contra o silêncio da platéia.