segunda-feira, maio 18, 2009

BROCARDOS (11)

No último dia 07 o veículo Passat dirigido pelo deputado paranaense Fernando Ribas Carli Filho, 26 anos, voou sobre o Honda Fit em que viajavam Gilmar Rafael Souza Yared e Carlos Murilo de Almeida. Isso não é uma figura de linguagem. Dada a altíssima velocidade em que trafegava o Sr. Deputado, o carro que avançou um sinal de trânsito sem os devidos cuidados literalmente voou sobre o outro e isso atestam a completa destruição da lataria do Fit em oposição a integridade de seus pneus. Os jovens Gilmar e Murilo não resistiram aos ferimentos. Carli Filho agora está internado em São Paulo e apesar de não apresentar risco de morte, ainda inspira cuidados.

O acidente foi na cidade de Curitiba, onde reside e trabalha o deputado, mas após ter o quadro clínico estabilizado, ele foi transferido para um hospital paulista.
Apesar do relatório de paramédicos e testemunho de funcionários do restaurante onde o Sr. Carli Filho jantou antes do acidente evidenciarem o consumo excessivo de bebida alcoólica, somente após vários dias do ocorrido a justiça determinou o exame de dosagem alcoólica.
Em entrevista ao Fantástico ontem, a mãe do deputado disse, consternada, que se ficar provada a culpa de seu filho, ele responderá totalmente por seus atos.
Seus colegas na câmara afirmam que essa situação é intolerável e que eles tudo farão para que o deputado assuma todas as suas responsabilidades, que por ora só podem ser julgadas por desembargadores locais, dado o foro especial a que o Sr. Carli Filho tem direito.
Agora que duas famílias foram destroçadas e toda uma comunidade se mobiliza contra essa situação vergonhosa, pergunto eu: por que dirigia um automóvel o excelentíssimo Sr. Deputado se sua carteira de habilitação estava irregular e trinta multas de trânsito (igual a 130 pontos na referida certeira) – cinco delas na mesma Av. Monsenhor Ivo Zanlorenzi, onde aconteceu o sinistro – o impediam legalmente de trafegar em via pública? É isso? A lei existe para tolher os desmandos da sociedade, mas a segue quem o quer? A letra por si só encerra todo um código de moral e não há instrumentos que a tornem prática além de multas e possíveis detenções? Qual é o limite que deve chegar a ilegalidade de um cidadão para que ele seja chamado às favas, ou isso depende de que cidadão estamos falando? A justiça conta com instrumentos para localizar e punir os transgressores, mas os inúmeros delitos e os poucos agentes proporcionam que entremos num jogo de azar e sorte para numa incerta os supostos criminosos sejam encontrados? E em encontrando os tais, apesar de todas as evidências, é preciso observar se há ou não culpabilidade, intenção, privilégios? Será possível que o departamento de trânsito não possua um sistema que quantificando essas multas emitisse um documento impeditivo ao Sr. Fernando que o permitisse de forma acintosa e arrogante desprezá-lo, talvez escudado pela sua condição social, econômica e política? Tenho eu e os outros mortais o mesmo direito?
O que matou Gilmar Yared e Carlos Murtilo foi a total ausência de caráter do Sr. Deputado Fernando Ribas Carli Filho, amparada pela falta de educação e valores que agora se diz satisfatória (e vá lá que seja, que quantos recebem pérolas e as deitam aos porcos?!!!), uma certeza de impunidade que se enraizou no brasileiro do mais humilde ao investido em quaisquer públicos poderes; daqueles que, às gargalhadas, jogaram para baixo do tapete persa as multas, propinas, desmandos e bravatas dos seus correligionários; de qualquer governo, em qualquer esfera, e toda instituição que se contenta em escrever leis e não instrumentalizá-las; da conivência de todo aquele que por medo, ou conveniência não atestou, publicou e confirmou tudo o que levaria o caso a bom termo.
Essa piada de mau gosto todo mundo conhece: quando sair do hospital, debilitado e abatido, o deputado precisará de repouso, suporte psicológico, amparo fraterno. O processo, se instaurado, vai levar anos e anos para ser avaliado, julgado e cumprido. E ainda se pode concluir da inocência do réu, ou falta de elementos que o tornem culpado. E assim, daqui há alguns anos, pelas ruas e estradas, ao som do mar e à luz de um céu profundo, o Sr. Carli Filho respirará fundo e rirá de sua boa estrela, um novo mandato e tudo quanto se deve ao digno cidadão brasileiro.

HUDSON ANDRADE
18 de maio de 2009 AD
11h05

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