domingo, junho 17, 2007

“CUIDEM BEM DOS ATORES...”

Shakespeare disse isso e completou que somos, os atores, as vozes do nosso tempo
E que tempos são esses? Desde a mudança de governo iniciou-se uma onda de esperança de dias melhores para a cultura do Pará e percebemos algum movimento, tímido, de reforma. A mudança na direção do Teatro Experimental Waldemar Henrique buscou atender uma demanda da própria classe artística, que se mobilizou – sempre com muita língua e poucas mãos – em reuniões, listas tríplices, campanhas, eleições e, espera-se, tenha-se conseguido um bom resultado. Até o momento não foi possível avaliar isso!
Foi criado ainda um Sistema Integrado de Teatros, o SIT, que sob a direção de Aílson Braga tem desenvolvido trabalhos no sentido de revitalizar, unificar, implementar, conhecer, fomentar – e outros verbos no infinitivo – nossa cultura no que ela tem de plural e de melhor, seja em que corrente atue. Sou amigo pessoal do Aílson, já tive o prazer de trabalhar com ele em vários momentos e reconheço suas qualidades como ator, diretor, dramaturgo, escritor e por isso creio que ele entenda nossas necessidades e se esforce para supri-las. Tarefa inglória. Alçado a essa condição, recai em suas costas os anseios de uma classe desunida que costuma ceifar mais do que semeou. Ao mesmo tempo um povo apaixonado pelo que faz, que abre mão de uma (pretensa) estabilidade social e econômica para levar adiante sua arte. O trabalho que o SIT iniciou ainda não é visível, mas eu ponho muita fé nele.
De cima da ribalta continuamos nós. E temos trabalhado bastante. Somos grupos muito jovens, como a Nós Outros – que prepara A Comédia dos Erros, de Shakespeare – e os Desabusados com seu Quem vai Levar Mariazinha Pra Passear?, veteranos como Cuíra e Gruta – respectivamente com Laquê e A Peleja dos soca-soca João cupu e Zé Bacu –, outros trabalhos, mais recentes, no entanto sob a tutela de grandes nomes do nosso teatro, como O Império de São Benedito, dirigido por Karine Jansen, que ainda montou uma instalação fotográfica sobre a história do teatro paraense, em exposição no Hall do Espaço cuíra e Em Carne e Osso, da Wlad Lima. Gente muito jovem em idade e experiência também dão seus passos, como o Kronus, que dia 29 de maio apresentou para um Waldemar Henrique lotado, Amor Barato, baseado na obra Amor de Perdição, do português Camilo Castelo Branco. O Nós do teatro estreou no último dia 08 de junho Arlequim, servidor de dois amos, dirigido por Rodrigues Neto – um dos espetáculos contemplados com o prêmio Miriam Muniz, da Fundação Nacional de Arte – FUNARTE, no anfiteatro da praça da República. A In Bust iniciou um projeto chamado Sábado Sim, Sábado Não, tem Teatro Infantil no Casarão, apresentando espetáculos voltados ao público infanto-juvenil, que ao custo de um brinquedo, ingressa no universo mágico de lendas, fantasias e bonecos com a própria In Bust e a Entreatos Companhia de Artes, que também se apresenta no Forte de São Pedro Nolasco, na Estação das Docas, com os espetáculos Histórias de Vagalume e Carro-Céu. No último 28 de abril a Escola de Teatro e Dança da UFPA promoveu o primeiro Cena Aberta de 2007, com performances de teatro, dança, música e uma exposição interativa de figurinos dos espetáculos promovidos pela instituição. Na mesma data a EDTUFPA recebeu oficialmente a posse do antigo prédio do MEC, que passa em definitivo a ser um espaço de aprendizado e, sobretudo, do fazer artístico na capital do Pará, celebrado com um abraço simbólico no prédio, que recebeu ainda recursos para a construção de um teatro experimental num de seus galpões. Na ocasião, Miguel Santa Brígida e o ICA (antigo Núcleo de Arte) lançaram O Auto do Círio 2007, com a apresentação do cartaz oficial do evento e um mini cortejo que reuniu personagens das diferentes matrizes artísticas e culturais que formam o espetáculo que vai à cena sempre na sexta-feira que antecede a procissão do círio de Nossa Senhora de Nazaré, em outubro, na Cidade Velha. Recentemente um movimento chamado Arruassa promoveu um encontro de performances e intervenções na praça do Carmo, reunindo vários artistas de Belém, apresentando teatro, música e artes plásticas. Num segundo momento e com o apoio do Cuíra, o Arruassa alterou a paisagem da Primeiro de Março, no Dia do Trabalho, questionando através de pinturas e grafites o abandono e descaso com aquela área da nossa cidade.
Muito mais gente está trabalhando, escrevendo, dirigindo, dançando – salve Ana Flávia Mendes e a Companhia Moderno de Dança! Salva, Jaime Amaral e seus bailarinos –, cantando – Júlio Freitas, Clepsidra, Vinil Laranja –, atuando dentro e fora dos palcos, iluminando – Milton Aires, David Matos, Sônia Lopes, Patrícia Gondim e Oriana Bitar – e sonorizando – Rutiel Felipe, o tico, Léo Bitar, Fábio Cavalcante, Marcus Paulo, João Paulo e Júnior Cabrali, os fantásticos (desculpem a falta de modéstia) músicos da Nós Outros – cenas, sem falar nos cenários e figurinos de Aníbal Pacha e Nando Lima.
Sei que muito mais gente está em plena atividade em Belém, mas por essas coisas que a gente não compreende, não nos conhecemos, não nos sabemos e não divulgamos o trabalho alheio – o que longe de nos roubar mercado, traria maior visibilidade pela multiplicação da propaganda boca-a-boca, defendida por Éster Sá, escritora, atriz e diretora, atualmente na Desabusados.
Aliás, dia desses, por e-mail, uma publicação carioca especializada em teatro me pediu indicação de iluminadores e cenógrafos para uma matéria. Indiquei quem eu conhecia. Quantos mais eu não conheço e não pude indicar? Saiam da toca! Escrevam pra nos-outros@hotmail.com, ou neste blog e deixem seus contatos. Vamos aparecer!!!
Não gostaria de me delongar e ainda nem comecei propriamente a falar do que pretendia com este artigo, mas antes me seria de muita valia se eu soubesse vossa opinião: quando vemos a Bienal de Música abortada por mesquinhas questões políticas, o declínio alarmante do Festival de Ópera – enquanto o de Manaus cresce maravilhosamente. Parabéns pra eles!!! –, os contratempos trazidos pela mudança do nome do concurso de canto lírico Bidu Sayão por questões de marcas – não questiono (muito) isso, apenas cito –, apesar de tanta gente e trabalhos acima citados, mas pouco vistos, pelo nosso descaso em formar platéias que nos assistam e não questionem boquiabertas que o ingresso ao espetáculo seja cobrado, pela ainda falta de espaço para ensaios, pela sempre dificuldade na captação de recursos para nossas montagens, qual é o futuro da Arte em Belém e no Estado do Pará? O que temos pra oferecer e o que queremos de volta?
Por favor, respondam. Usem este espaço, ou escrevam para nos-outros@hotmail.com.

Um comentário:

Anônimo disse...

oi, hudson, muito prazer, sou marton maués, professor da escola de teatro e diretor do grupo palhaços trovadores (acho que um desses invisíveis de seu artigo, tanto eu, quanto o grupo).
quanto ao novo governo, ao "futiro da arte": sem dinheiro, só com blablablá rancoroso, não se vai a lugar nenhum. e, pensando bem, o futuro pertence a quem nle viverá. me preocupa é o presente da arte, do teatro. ainda mais se continuarmos cegos.
abração.
marton maués