sábado, março 06, 2010

AQUELES DOIS...




Para ler e depois ler Caio F, que faz, ele sim, parecer essa coisa de igual ser de verdade!)


Homossexualidade não é tema novo no cinema. Desde a sutileza dos diálogos de Ben Hur passando pelos vários matizes e glitteres de deboche, violência, romantismo, até o recente desencontrado amor de Jack Twist e Ennis Del Mar em Brokeback Mountain. Logo, contar uma história cujo foco seja esse precisa de um diferencial. E Aluísio Abranches apostou na consangüinidade e no incesto para contar seu Do Começo ao Fim (Brasil, 2009). Mas a ousadia acaba aí! Desde o início percebemos que aquilo não pode dar em outra coisa e quando Pedro (Jean P. Noher), pai de Francisco, questiona Julieta (Julia Lemmert), ex-esposa e mãe do garoto se ela não teme que a intimidade excessiva com o meio-irmão Tomás acabe sexualizada, a resposta é um tímido “sim” de olhos perdidos. E nada mais. Aliás, esse negócio de meio-irmão é só pra atenuar o climão de incesto da coisa.
Francisco e Tomás (... e ... quando crianças e ... e ..., adultos) vivem um e para o outro num mundo idílico: uma mãe incondicionalmente amorosa e compreensiva, Alexandre (Fábio Assunção), um pai-padrastro capaz de sufocar suas dúvidas e medos pelo amor à esposa, uma ama (seria esse o papel de Louise Cardoso?), uma casa linda, confortável, dinheiro bamburrando e ninguém mais. Nenhuma outra criança, empregados, escola, vizinhos e até mesmo o esporte dos meninos, a natação, prescinde de uma equipe. Como não se apaixonar (ou criar uma dependência?) daquele que é a sua mais presente referência?!
Daí tão logo se vêem sós Francisco e Tomás se entregam um ao outro como se aquilo fosse o mais natural e plausível possível, sem qualquer impedimento moral (o fato de serem irmãos), social, ou o que quer que seja. E a cama que os recebe, branca, imaculada, num quarto branco, imaculado, numa penumbra acolhedora e um discurso de “eu te amo porque...” que faz o sol nascer amarelinho, cedinho, cheio de um amor azulzinho, azulzinho, os redime de qualquer pecado, seja lá em que hemisfério for.
Aliás, ninguém questiona nada. Nem Alexandre, ou o treinador, ninguém. O que Abranches quer que pareça natural tira do roteiro o conflito, a falha trágica dos heróis lindos, másculos, honestos, queridos. Não existem curvas emocionais. O filme engata uma velocidade de cruzeiro e navega sem procelas. Daí eu vou discutir o quê?! O mundo não existe. Só existem Francisco e Tontom.
Quando os dois se separam pelo treinamento de Tomás na Rússia (!) os textinhos sobre ciúmes não convencem ninguém, assim como o sexo virtual. Francisco definha como um dependente químico e sua tentativa de transgressão é frustrada não por culpa ou moralidade própria, mas da moça que ao ver a aliança em seu dedo decide ir embora mesmo desmentindo a própria fala anterior “Se ele tem alguém esse alguém tem um problema porque ele é meu!”. Cadê aquela atitude? De fêmea fatal a madre da Castíssima Irmandade das Mantenedoras de Lares em alguns poucos fotogramas!
Francisco não resiste e vai atrás do irmão e amante. Putz! Contei o final. Relaxa. Em dez minutos de filme a gente saca isso. E o filme termina, abrupto, e eu fiquei pensando numa frase da Elen Vaneau, personagem de Andréia Beltrão em Som & Fúria: “Essa história é uma idiotice. Um amor assim não existe!”

HUDSON ANDRADE
09 de fevereiro de 2010 – 11h06

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