segunda-feira, março 22, 2010

ACEITA ESSA CONTRADANÇA?



20 anos e dezenas de Sessões da Tarde depois eu assisti pela primeira vez Dirty Dancing. Lembro que (I’ve had) The Time of my Life concorreu ao Oscar de melhor canção (levou?) e de eu ter adorado a apresentação: um teatro de sombras em que um cavaleiro lutava por sua amada princesa. Depois nada. Afinal não é o tipo de filme que me encha os olhos. De fato a história é tosca, cafona, datada; os personagens não têm nuances, as interpretações têm a profundidade de um pires, o figurino demonstra todo o horror dos anos 80 – apesar de a trama se passar em 1963! – e até mesmo o tal dirty dancing do título (suja em contraponto aos tradicionalistas e comportados bailados do acampamento de férias Castkill´s) não passa de uma esfregação tímida e inócua nesses tempos de rebolados em velocidades ascendentes. Será que na época alguém sentiu algum comichão?! Eu não sentiria vendo casais – todos heteros e nenhum interracial – mexendo e remexendo e aqui e ali uma mão na bundinha.
Por que diabos então eu estou aqui escrevendo sobre o filme de Emile Ardolino? É que um fato interessante aconteceu. Ao assistir o tal, a famosa cena final: todo mundo dançando parece final de novela das 7; o Johnny Castle (Patrick Swayze, que Deus o tenha!) cantarolando The Time of my Life para Baby (Jennifer Grey), fiquei com os olhos marejados. Talvez isso tenha levado tanta gente ao cinema e aos recentes casamentos que usaram a cena para a entrada dos noivos. Gente como eu que vive ganhando sorteios, bingos e quermesses. Pra mim tem um adicional: eu quero ser um ator-bailarino, fazer coreografias, sair cantando e dançando pelos palcos. Mas o que realmente me tocou foi ver o beijinho apaixonado do casalzinho no salão cheio de gente feliz e redimida.
Continuo afirmando que obras de arte estimulam o pensamento, o questionamento, nossos valores. Comunicam coisas. Que não se confronta uma obra de arte incólume nem ela passa por nós “...like the wind through my tree”*. Mas arte também é emoção – o que só reforça o que eu digo! – e que bom que seja. Esse mundinho estéril em que nos tornamos precisa disso!

(*) She´s Like the Wind, canção do filme interpretada por Patrick Swayze.

Hudson Andrade
13 de março de 2010
11h57

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