segunda-feira, janeiro 05, 2009

A MÃO E A LUVA

Final de ano e a Escola de Teatro e Dança da UFPA apresenta o resultado de seus cursos e oficinas. Dos tantos trabalhos apresentados assisti dois: Paraíso Perdido, dos alunos de teatro juvenil e Belém, um dia, um mês, 2008, da turma do segundo ano 2008 do curso de formação de atores.

Paraíso Perdido foi apresentado em novembro passado. Baseado na obra de John Milton e dirigido por Cláudio de Melo, o espetáculo reuniu um elenco extremamente jovem e para contar a história de um anjo que vem à Terra, propôs utilizar um dos locais mais bonitos de Belém, o Cemitério da Soledade. Simbolicamente o uso desse espaço que remete à morte queria dizer, às avessas, do nascimento humano desse anjo, assim como do surgimento de mais um grupo de atores. Mas a ousadia pára por aí. Noves fora as dificuldades de cessão do espaço – na ainda atrasada mentalidade local de que é melhor deixar apodrecer e cair do que utilizar – e de questões com o público desacostumado ao uso de locais não convencionais e o ingresso em quaisquer lugares com cadeiras não numeradas (aquela correria desembestada e grosseira pela primeira fila, para quem não entendeu!), o soledade foi, quando muito, uma moldura. E que moldura! Enquanto um cordão de isolamento humano barrava o acesso à área da apresentação, caminhei um pouco entre os túmulos com um milhão de imagens na cabeça para aquele início de espetáculo que não poderia ser menos do que a proposta do espaço. No entanto a encenação citada poderia ter sido feita em qualquer cemitério, na própria ETDUFPA e mesmo em qualquer teatro. Valeu por ter quebrado aquele silêncio todo e abrir portas para novas tentativas.
Quanto a encenação há dois pontos principais a ser considerados. Primeiro, a imaturidade dos atores e, segundo, a mão pesada da direção. Falo imaturidade de tudo: do teatro, da vida, da formação acadêmica e ate mesmo de valores. De formação para entender para que servem pontos e vírgulas; do teatro pela postura, pela fala, pelas intenções; de vida e de valores para perceber a profundidade filosófica e as implicações do texto do Milton. Claro que estou sendo generalista e reconheço que há exceções. Boas, fruto de talento e dedicação de uma arte que carece tanto de exercício físico quanto intelectual em porções superlativas. Infelizmente talento não é tudo, sequer o princípio, mas e um bom caminho.
A direção: Cláudio de Melo deveria ter optado por outro texto, pra começo de conversa. A grande questão envolvendo essa opção é exatamente a imaturidade supra citada do elenco. Quer dizer que para atores jovens eu deva dar sempre água com açúcar e textos medíocres? Nada disso! Mas para grandes passos, longas pernas e esse elenco em particular teria rendido muito mais em outra proposta. E teriam rendido muito mai com – sem trocadilho! – mais asas. Optando por um modelo de direção mais rígido, Melo acabou tolhendo seus atores que por sua vez não tinham conteúdo para contrapropor. Paraíso Perdido cai num formato carente de real ousadia e do qual o teatro contemporâneo busca fugir de forma até meio exagerada, caindo para o extremo oposto onde talvez nem o diretor saiba dizer o que quis dizer. Diretor, aliás, é o adjetivo que realmente cabe nesse contexto e que seria adequado a um grupo mais experiente e por que não dizer, mais tradicional.
Aqueles meninos e meninas devem guardar essa experiência com carinho, cientes de que elas representam um primeiro passo num longo aprendizado. É evidente o esforço feito nessa empreitada e minhas palavras irão certamente contra suas impressões pessoais quanto ao resultado obtido. Tomara! Assim eles não desistirão,mas espero que eles realmente pensem sobre o assunto e invistam pesado na sua construção cênica, voltando quem sabe aquele cemitério e aquele paraíso com propriedade e sem medo da queda.

HUDSON ANDRADE
15 de dezembro de 2008.
11h30

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