sábado, janeiro 10, 2009

dançAmemóRiaTEatro

Em dezembro de 2008 o Instituto de Artes do Pará (IAP) promoveu o Circuito das Artes, apresentando o resultado de suas bolsas de pesquisa envolvendo artes cênicas (dança e teatro), musicais, plásticas, audiovisuais, literárias e de expressão da identidade. Um incentivo à produção artística local e que leva ao público totalmente de graça (para alegria dos vaqueiros* de plantão!) espetáculos nos mais diversos ambientes do IAP.
Do bafafá generalizado que ouvi dos muitos trabalhos, pude assistir quatro, resultados de amigos queridos e, acima de tudo, profissioais das artes cênicas: o ator e bailarino Ronald Bergman, o diretor e novamente ator Miguel Santa Brígida e a atriz, cantora, diretora e dramaturga Ester Sá. Três trabalhos absolutamente distintos, inscritos oficialmente em bolsas de dança (os dois primeiros) e teatro, cujos resultados são a mostra de uma arte plural e ousada que rompe os tênues e vaidosos limites entre as diferentes formas de expressão.
Assisti ainda Muragens - Crônicas de um muro, animação em 2D sobre o cotidiano do entorno do Cemitério da Soledade, de Andrei Miralha. Sobre o cimento e o limo do cemitério, feirantes, amantes, ladrões, moradores de rua, crianças, desfilam seu dia-a-dia, seus imprevistos, o trabalho exaustivo e diário que não prescinde da sesta quando o calor aumenta e por poucos instantes a alma voa livre. Trabalho de excelente qualidade, poeticamente construído e maravilhosamente musicado. Tomara vare mundo!!
Teatro é um ou mais atores em cena, dando falas e executando marcas? Dança são bailarinos, ou dançarinos em coreografias que expressam sem palavras o que se quer dizer? E contar histórias de vidas alheias? Em que categoria encaixar os rodopios do Mestre-sala e sua Porta-bandeira? e se eles falarem, isso é teatro?
Dinamismo e inconformismo devem ser palavras sempre presentes no artista e todos os grandes (não necessariamente bons nem sempre belos!) gênios foram os que subverteram a ordem das coisas e provocaram olhares diferentes sobre o óbvio.

As próprias origens e a sabedoria e cultura popular inspiraram Negra Memória, experimentação cênica em dança de Ronald Bergman. A sala de dança do IAP se transformou num labirinto escuro onde na procura de um preto retinto e tinhoso, Bergman encontra a religião afro, seus sincretismo, o açoite, a cachaça, a dança, o banzo de seus antepassados e o colo materno, porto seguro.
Acompanhado de registros sonoros gravados e música ao vivo o ator-bailarino avança no claro-escuro que é tanto a cena quando seu resultado inscrito em dança mas que se utiliza da poética da fala - ponto que precisa ser amadurecido.
Negra Memória é uma celebração do Si, convidando todos a descansar a cabeça no colo da mãe África-útero-Arte.

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