quarta-feira, outubro 11, 2006

QUANDO EU MORRER QUERO UMA FITA AMARELA

O Auto do Círio é uma celebração da vida!
Vida que é a fé do povo paraense na devoção à Maria.
Vida que é o ofício do ator. (sobretudo numa terra sem política cultural.)
Vida que é o canto, a dança e a performance do artista em louvor à Virgem de Nazaré.
Em 2006 a falta de patrocínio que viabilizasse uma produção digna dos artistas e do público do Auto do Círio emudeceu as ruas da Cidade Velha. Mas um grupo decidiu reagir. Gritar da infâmia e do despropósito desse buraco. Fazer ver que sempre se pode produzir algo e que a falta de dinheiro não é justificativa para a falta de arte!
De fato não é!!
Cientes de que não realizavam o Auto do Círio e respeitosos (!) na sua manifestação, o pequeno grupo percorreu quase o mesmo percurso do cortejo original. Seus textos e músicas perguntavam: por que?
Foi doído assistir a essa manifestação. Confesso que não fiquei até o final, quando normalmente a imagem de Nossa Senhora sobe aos céus carregada de balões – sempre o momento mais tenso e emocionante para mim. Não podia não ver isso. No entanto, o que mais pesou foi o tom funéreo da procissão, o preto, as lamentações. Como eu disse, o Auto do Círio é uma celebração da vida e qualquer manifestação feita por ele também deveria ser. Minha opinião continua sendo que o melhor protesto seria o silêncio; deixar o normalmente colorido e iluminado trajeto do Auto vazio e calado. Fazer sentir no peito de todo mundo essa ausência.
Há quem não concorde!
Assim como queremos lembrar nossos entes queridos como eram em vida, honraríamos muito mais – não o Auto do Círio em si, mas a Arte – se essa manifestação fosse tão alegre quanto o próprio Auto é! Sob a direção (ou coordenação/orientação) do Sr. André Lobato, o Kaveira, o manifesto se tornou uma extensão para a rua das performances bizarras da sua boate, a Mystical. Crânios, velas, choros: estava tudo lá, soturno e pesado como nosso espetáculo nunca foi, ou será. Não posso deixar de pensar em alguma auto-promoção.
Foi uma noite dolorosa, que poderia ter sido evitada, ou melhor, conduzida de forma bem diferente!
Àqueles que protestaram – muitos deles amigos queridos –, o meu respeito. Ao ato em si, meu desagravo. Ao Auto do Círio e a todos os que o produzem, executam e assistem, a minha consternada e agora envergonhada cuíra de que 2007 não demore a chegar.
Até lá!!!

Um comentário:

Anônimo disse...

Aos que lutam para tentar difundir um pouco de cultura às mentes tacanhas de nossa sociedade tupiniquim, saudações. E é com orgulho que posso dizer, que mesmo estando longe, e não poder ter assistido a úitima apresentação, afirmar que a arte cenica não fraqueja ante as intempéries, e mesmo com tão ´pouco (ou nada), fez-se uma homenagem a fé e à devoção em Maria. Um abraço.