Anualmente, uma penca de novos atores são regurgitados pela Escola de Teatro e Dança da UFPA, em seu curso regular de formação. Outros tantos participam das oficinas do Curro Velho, Casa da Linguagem, Unipop, etc...
E cadê toda essa gente?
Em meu processo de seleção de elenco para nosso espetáculo O Glorioso Auto do Nascimento do Cristo-Rei, foram muitos contatos, umas tantas tentativas-esperas e muitos nãos. É certo que a gente tem um conhecimento limitado e eu não sei quem é quem de todos os que concluíram o curso na ETDUFPA depois de mim, mas igualmente não existem mecanismos para que se possa ter acesso a esse tipo de informação: um banco de dados real, ou virtual, um espaço de relacionamento, nada!
Fica parecendo que nada acontece nesta cidade e que se os teatros estão às moscas, é porque não há o que se apresente neles. Ou, como diz o regulamento de nossa mais famosa casa de espetáculos, o Teatro da (mais do que devia) Paz: não há produções cujo nível esteja compatível com o espaço solicitado.
No entanto, a cidade possui muitos e bons grupos profissionais ou se profissionalizando, lutando essa luta inglória de se firmar no cenário artístico local. Gruta, Cuíra, In Bust, Atores Contemporâneos são desses artistas que já viraram referência em Belém. Existem vários outros nomes (aliás, cada nome mais absurdo do que o outro. Vamos combinar!) buscando seu lugar ao sol.
É com muita satisfação que eu vejo a Companhia de Teatro Madalenas em ação. Domingo, 22, no Teatro Experimental Waldemar Henrique, estive assistindo a versão 2006 de A Aurora da Minha Vida, espetáculo de conclusão de curso da turma Madalenas em 2001. Dos tantos atores que entraram na turma, um pequeno núcleo se firmava (é sempre assim, não é?!), dando origem ao Madalenas, referência à montagem de 2000, Paixão Barata e Madalenas, remontagem de Em Nome do Amor de Luis Otávio Barata, com a direção de Wlad Lima e Karine Jansen. A Aurora volta novamente com a direção de Miguel Santa Brígida, novo elenco e uma muito mais dinâmica e agradável leitura do texto homônimo de Naum Alves de Sousa. Em julho passado, o Madalenas promoveu um espetáculo-manifesto-denúncia pelas ruas de Belém. Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua pretendia chamar a atenção para esse descaso com a arte (texto recorrente, não?!), falta de patrocínio, de espaço para ensaios e apresentações – o grupo, assim como a Nós Outros (Fica Comigo Esta Noite, 2002), utilizou o Palacete Bolonha (mas isso são outros governos. Está tudo proibido ou dificultado agora!) como cenário para À Flor da Pele (2002), uma criação coletiva que investiu na escrita e direção próprias da companhia, o que em si é extremamente louvável pela disposição de amadurecer seu fazer teatral, bebendo em fontes seguras, mas andando com as próprias pernas.
N´A Aurora existe todo um trabalho de afirmação do artista múltiplo, que atua, canta, dança, reinventa-se em diferentes papéis dentro da mesma trama, esmiúça o texto e as intenções mínimas do dramaturgo. É claro que existem falhas. Sempre há. O que não significa falta de talento, ou fealdade, mas processo, percurso, experimentação. Desejo! Neste domingo o grupo oscilava entre a ansiedade de uns, a falta de ritmo de outros, uma composição mais precisa e o tipo que ajuda na criação do personagem, pecando às vezes no humor fácil que perde a acidez da escrita de Naum e esse fogo de ser ímpar.
Recomendo a todos assistir A Aurora da Minha Vida e aplaudir o Madalenas, pois é essa respiração e olhares da platéia e o som das suas palmas que criam a energia cinética (adorei isso, Cleciano!) que nos movimenta.
Merda, Madalenas! Merda para todos Nós!
SERVIÇO:
A Aurora da Minha Vida, de Naum Alves de Souza. Direção de Miguel Santa Brígida. Com: Michele Campos (a Adiantada), Saulo Sisnando (o Quieto), Leonel Ferreira (o Puxa), Flávio Furtado (o Órfão), Marta Ferreira e Liliane Garcia (as Gêmeas), Davi Mansour (o Bobo) e Dina Mamede (a Gorda).
Teatro Waldemar Henrique (Praça da República), dias 26 e 27 de outubro e 02 a 05 de novembro de 2006, sempre às 20h00.
Ingressos: R$ 10,00 (meia para entudantes).
2 comentários:
Saudações Hudson,
tu sabes muito bem como não está sendo fácil viver do nosso oficio neste estado. Infelismente a politica cultural que se estabeleceu no estado é ingrata com artista que procuram um lugar ao sol, mas não se posde baixar a guarda e chorar lamentações. Sempre acreditei que um dia nós, artistas anonimos faremos um grande barulho na cidade e no estado que ninguém passará despercebido. Acredito que a hora chegou. Vamos fazer barulho, mobilizar a moçada das cênicas, criar, de fato um forum permanebte para se discutir politicas públicas sem precisar dever favores ou ficar com o rabo preso. Nós, os artistas, precisamos e devemos nos expressar livremente e chamar atenção da população que existe sim censores camuflados estabelecidos no poder executivo, tanto na esfera municipal e estadual. Quero fazer teatro sem precisar agradar grupo político X ou Y. A manifestação deve ser livre pois assim tem que ser. Merda sempre.
Leonel Ferreira
É, parceiro...
parece que um novo vento começou a soprar. Temos todos esperanças que com esse novo governo alguma coisa de fato possa acontecer. Se não dependemos deles pra fazer nossa arte, precisamos que eles não atrapalhem e façam dos espaços destinados a arte, locais onde ela possa ser exercida com soberania.
Que os eletistas e segregacionistas 12 anos de Paulo Chaves estejam ao pó e que uma nova luz ilumine nossos palcos!
Que Dionísio nos embriague sempre!!!
Evoé!!!
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