terça-feira, outubro 17, 2006

NO MÊS DE OUTUBRO EM BELÉM DO PARÁ

Quando chega outubro, Belém muda. Transborda de gente sem chegar a ser cosmopolita; fica ainda mais alegre, iluminada e risonha. A cidade se agita por todos os lados porque é chegado o Círio de Nazaré, a maior procissão religiosa do Brasil e uma das maiores do mundo.
Por Belém ainda engatinhar nessas coisas de metrópole, tudo por aqui tem um jeito diferente. Podemos ver ainda uma contrição maior que o interesse puramente turístico, um fervor, que faz dessa quinzena uma verdadeira festa.
Não sei quem inventou esse negócio de natal dos paraenses. Nem entendo direito o que isso quer dizer, mas acho que não concordo muito. Se festejamos Maria, não deslocamos nossa atenção das comemorações de final de ano – e quem poderia escapar de festejos cada vez menos religiosos e desplugados de seu sentido de fraternidade e blá-blá-blá? Acontece que damos ao Círio o status que ele merece e à Maria o respeito que lhe é inalienável. Para além do trabalho de todo um ano da diretoria da festa, vemos o povo num burburinho, preparar-se para o segundo domingo de outubro como para o Grande Dia. Roupa nova, reserva de dinheiro pro arraial, as comilanças, votos, camisetas, fitinhas e seus três nós de promessas. E as promessas! Ah, as promessas e as graças alcançadas. Que de maior existe nessa festa que a fé do nosso povo a caminhar preso a uma corda, de joelhos, cruz aos ombros, casas e barcos à cabeça, vestir-se de anjo, cunhar formas de cera, espremer-se por quatro quilômetros de um calor que não há mangueira que dê vencimento? Colar o rosto no dorso desconhecido e suado, ou simplesmente parar à passagem da berlinda enfeitada de flores e, palmas ao alto, fechar os olhos no pedido, no agradecimento, no louvor?
É a fé que dá às agora tantas romarias o seu real significado! Sem essa devoção, não haveria Círio. É uma demonstração de religiosidade que extrapola os limites dos dogmas formais e coloca junto todo o povo.
E apesar desse negócio de fé não ser lá muito racional, não nos esqueçamos que é ela que cura, que liberta, que dá o pão e o teto. Afinal, não dizia o Cristo “Tua fé te salvou!” e só então operava o “milagre”?
Tenhamos, pois fé. Se não em Maria, em quem ou o que quer que seja. Não deixemos nossas vidas na esterilidade das equações matemáticas!

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