No último dia 24 estive na Estação Gasômetro, no Parque da Residência assistindo a Chico Xavier: exemplo de amor, espetáculo teatral criado por jovens do GEAC – Grupo Espírita A Voz do Consolador. A partir de algumas referências retiradas do livro do Marcel Souto Maior, As Vidas de Chico Xavier, a peça se propunha a mostrar tanto a vida daquele que é considerado o maior médium brasileiro e mais a importância do trabalho que ele desenvolve pelo Espiritismo e no amparo a tantas almas desta e da Outra Vida que pelo seu concurso obtiveram conforto e instrução.
Sob este aspecto o espetáculo é muito bem sucedido. Na sua função evangelizadora, dá o recado. Louvo o grupo pelo apoio recebido, coisa que não é absolutamente comum por estas bandas, onde a pretensa preservação da pureza doutrinária criou um certo hermetismo. Recentemente no Theatro José de Alencar, em Fortaleza, Ceará, aconteceu a IV Mostra Brasileira de Teatro Transcendental, reunindo espetáculo com temática espiritualista. Foram 06 trabalhos apresentados entre os dias 16 a 20 de agosto. Enquanto isso, no Parazinho, as canções utilizadas nos grupos de evangelização infantil ao EIMEP (Encontro Intensivo de Mocidades Espíritas do Pará) ainda são (quase) as mesmas quando da inauguração de sede da União Espírita Paraense.
Não obstante é preciso entender que existem várias formas de se divulgar uma idéia. Um ensaio, uma tese, uma palestra, uma aula. E o teatro. Cada uma guarda suas próprias características. Assim o teatro. A inexperiência do grupo nessa tal carpintaria teatral é evidente. Esse não é o problema. O problema é levar à cena um produto absolutamente inacabado.
A arte do teatro não é fruto de um talento místico – ainda que talento pese! Não existem atores ou atrizes mediunizados no palco, vivendo outras consciências. Existe a pessoa que através de muito trabalho, estudo, treinamento, análise de técnicas e troca de experiências constrói a sua forma particular de ser ator, de ser atriz.
Dizem que a arte deve ser o Belo promovendo o Bom. Muitas obras citam a corrupção da arte pelo hedonismo humano e a descrevem como uma musa combalida e moribunda sob o peso da nossa impudência. Particularmente creio que a Arte, citando Legião diria: Que tenho eu contigo, Jesus de Nazaré?! Ou com o Buda, ou com quem quer que seja? A função da arte é fazer pensar. Expor os fatos. Dia desses me diziam “Cidade de Deus é um filme muito bom, mas tem muito palavrão, porra!”. Limitei-me a perguntar como é que ele pensava que os traficantes deveriam se expressar. Silêncio. Claro! Imagine-os cheios de galanteios e rapapés. Que seria de sua mensagem? Se não é pra ter palavrão, então não se faz o filme e, por conseqüência, não se discute o caso. Compare-o com sua versão light, Cidade dos Homens, leitura família (e quase Disney) que obviamente tem sua mensagem, mas nunca o mesmo impacto.
E o que é Belo? O que é Bom? Maria Clara Machado já dizia em seu Tablado que não escrevia lição de moral para as crianças em seus textos. Ninguém gosta de lição de moral! Ela dizia o que devia ser e cada um avaliava conforme o peso dos seus próprios valores.
Mas voltando aos meus amigos do GEAC, insisto em que eles persistam nesse grupo, mas que encarem o teatro como trabalho, um ofício árduo. Que estudem e busquem uma dinâmica tal que tudo o que eles querem dizer esteja lá, mas sem a preocupação de agradar, de fazer feliz, de provocar cizânia, de crucificar. Observem na cara da platéia aquela sobrancelha erguida, o ar de dúvida, o sorriso de satisfação da conclusão obtida (a que ela puder alcançar, não a que eu quero que seja!) e a Arte – essa deusa meio inconseqüente – lhes sorrirá e cobrirá de louros.
Pois já dizia o dramaturgo Louis Jouvet: Não há nada mais fútil, mais falso, mais vão, nada mais necessário do que o teatro!”
3 comentários:
Querido irmão, sabemos que a mentalidade reinante ainda é aquela de "divulgar a mensagem", o teatro é apenas o meio. Assim, negligencia-se o meio sob alegada atenção focada no fim. Não concordo, claro, mas me pergunto se a proposta é manter um grupo de teatro espírita. Se for, eles serão obrigados a se profissionalizar, se quiserem ser levados a sérios. Se não for, acho que se pode dispensar maiores apuros artísticos pois, nesse caso, o foco realmente estará na mensagem e não no teatro. Mas aí teríamos um teatro de paróquia, pelo qual eles podem perfeitamente optar, mas com o cuidado de não se expor como profissionais. Isso poderia comprometer a mensagem.
Enfim, conheço tua paixão pelo teatro e sei o quanto a arte é irracional. Se pensas que qualquer pessoa que se meta a montar um espetáculo tem que seguir criteriosos referenciais artísticos, sem os quais não seria digna de invocar o santo nome do Teatro, aí serei obrigado a discordar de ti. Beijos.
O texto”É PRECISO FAZER DIREITO”, deveria ser substituído por”TER CORAGEM DE SER O PRIMEIRO”,onde num campo de tantos talentos ainda não se dispuseram a falar a linguagem crística, pela arte da encenação.
O grupo JEAC, é experimental, e como tal, tem dificuldades em expressar tecnicamente um trabalho cênico, mas que agradece a opinião feita ao seu trabalho
. Quem sabe que, agora ,exposto, sendo visto por profissionais entendidos nesta linguagem artística,esse segmento sinta-se movido a orientar outros tantos grupos que encontram-se no anonimato , para que consigam sair de trás das cortinas , que atravessem as paredes das Casas Espíritas e levem para fora dela na forma que sabem se expressar textos de amor que a Doutrina tanto nos ensina.
Querido Alan,
Outros, antes de ti e do JEAC, já se dispuseram a esse tipo de linguagem, sempre difícil, pois foge do habitual e do comercial. Mas, realmente, é preciso insistir, sem nunca deixar que alguns conceitos de certo e errado inviabilizem nossos projetos. Já tentei trabalho nessa área, mas uma (pretensa) pureza doutrinária impediu que fôssemos adiante.
Sem problemas! Devemos ser responsáveis e corretos com a religião que abraçamos, mas nunca, hipócritas, ounos tornaremos os fariseus tão combatidos pelo Cristo.
No que eu puder ajudar, meu irmão, conta sempre comigo. Eu e a Companhia Nós Outros teremos um imenso prazer em trocar nossas experiências e apredner com o JEAC.
Abraços!
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