quarta-feira, novembro 23, 2011

EU 32




Para ler ao som de Eurythmics: “Sweet dreams are made of this...”


“Dormir, talvez sonhar”, diria Hamlet. Sonhar: olhar pra dentro de si mesmo, ou olhar pra fora?
Se tudo o que há no sonho sou eu mesmo, sou parede, praça, mar e mistério. Se tudo o que se sonha está no subconsciente, o meu se chama lascívia. Se um sonho é um caminhar da alma, a minha tem tanta sede quanto meu corpo.
“Dormir, talvez sonhar...”, repito Shakespeare e viro pro lado vazio da cama. Desço a mão até meu pau rígido e aperto até que doa. O ar condicionado não refreia o suor da testa. Cerro as cortinas tapando o luar e caminho em riste pelo escuro do quarto. O relógio anuncia às cinco horas e daqui a pouco trabalho e estarei novamente exausto, olhos vermelhos, olheiras, mau humor.
Sento na cama, seguro o falo na mão que treme. O vai-vem dura pouco tempo e o jato me dá um coice contra o colchão de onde levanto duas horas depois com o toque irritante e insistente do despertador do celular.

Tiro a roupa, espalho espuma pelo rosto, corro a lâmina. Alguém bate à porta. Entreabro. Ele, sempre ele, sempre a mesma camiseta preta com letras brancas escrito sei lá o quê, o bermudão.
“Deixa eu entrar!”, ele sussurra.
A mão treme. O coração dispara. Bato a porta com força.
O som me acorda.
Desço a mão até meu pau rígido e aperto até que doa...

...espalho espuma pelo rosto, corro a lâmina. Alguém bate à porta. O toque é sutil, quase inaudível, mas o susto desnorteia a mão e o sangue brota no pescoço logo abaixo do queixo. Mais três toques suaves. A mão já avança para a maçaneta, mas pára no meio do caminho.
Se eu escuto a sua respiração tranqüila, ele certamente ouvirá a minha, ofegante. Tapo boca e nariz. Recuo dois passos. Silêncio.
Acordo quando o relógio anuncia às cinco horas. Sento na cama. O vai-vem. O coice. O toque irritante e insistente do despertador do celular.

Alguém bate à porta. Três toques. Suaves. Mas a mão desnorteada faz brotar sangue no pescoço logo abaixo do queixo. Pela porta entreaberta eu o vejo: ele, sempre ele, a mesma camiseta preta com qualquer coisa escrita e o bermudão.
“Deixa eu entrar”, ele sussurra. Abro a porta o suficiente para que ele passe. Giro a chave duas vezes. Sinto no frio das minhas costas arrepiadas o braseiro do seu corpo magro e moreno.
Me ajoelho diante do volume enorme que ameaça rasgar o bermudão e aperto com cuidado seu falo para que não doa. Entreabro os lábios. Chupo sua pica dura com fome de necessitado. Ele se curva. Olha nos meus olhos, tranqüilo; a próxima a boca da minha, mas segue até o pescoço e lambe o sangue que já alcança o peito.
Acordo com o toque irritante e insistente do despertador do celular. Estou exausto, olhos vermelhos, olheiras. Aborto um sorriso maroto. Daqui há pouco trabalho.

Nem trânsito, nem chuva, nem o calor insuportável da tarde. Tudo parece certo. A música nos fones ajuda a passar o tempo, a chuva esfria o asfalto e o sol ilumina a cidade de um jeito ímpar. Aceitei até um barzinho com os colegas de trabalho. Tantos convites recusados. Por que não? “Cerveja, não, que eu não bebo! Tem Coca em lata? Normal, claro! Com gelo e limão, por favor.” Pedi ao garçom depois de lhe perguntar o nome. Um rapaz magro, simpático e atencioso.
Fomos os últimos a sair. “Eu pego um táxi!”, agradeci, recusando a carona. “Não esquenta a cabeça.” De dentro do carro eu vi o garçom saindo pela porta de enrolar semi-aberta do boteco. Bermudão, camiseta preta com qualquer coisa escrita em branco. Prendi a respiração. “Pra onde, senhor?”. Só quando o motorista repetiu mais forte é que eu vi que divagava e dei o endereço. O carro seguiu reto e acabamos por passar pelo rapaz que caminhava tranqüilo madrugada adentro.
Fiz o taxista parar e ofereci carona. Ele entrou e sentou no banco da frente, agradecendo. Ninguém disse nada até a porta da minha casa.
O vento noturno não refreia o suor da testa. As nuvens cerram o céu tapando o luar. Em riste caminho até a porta, giro a chave duas vezes. Entreabro. Ele me segue calmamente e com paciência espera atrás de mim. Sinto no frio das minhas costas arrepiadas o braseiro do seu corpo magro e moreno. Abro a porta o suficiente para que ele passe. “Quer entrar?”, sussurro.
Ainda na sala me ajoelho diante do seu pau duro, aperto de leve para que não doa enquanto o tiro da bermuda que já ameaça rasgar. Chupo com fome de necessitado. Ele se move de leve. Vai-vem. O jato. O coice. Gemidos quase inauditos.
Ele quer mais. Sempre quer. Eu quero mais. Sempre.
Caminhamos em riste para o quarto. Sento na cama. Tiro a roupa. Ele vem, aproxima a boca da minha e pede: “Deixa eu entrar?”
Minha mão treme. O coração dispara. Deito. Me entreabro. Suas mãos correm minhas costas. O toque é sutil. Algum peso. Segura meu pescoço com a esquerda logo abaixo do queixo. Suave.
A lâmina corre. Sem susto. Sua respiração tranqüila. A minha que cessa. Silêncio.
O relógio anuncia às cinco horas.
Dormir. Talvez sonhar.

HUDSON ANDRADE
23 de novembro de 2011 AD
10h57


Crédito da imagem: http://www.flickr.com/photos/gilrodrigues/page2/

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