“O nosso amor a gente inventa pra se distrair. E quando acaba, a gente pensa que ele nunca existiu.”
(Cazuza)
A maior artimanha do Diabo, dizem, é nos fazer acreditar que ele não existe. A maior artimanha do Amor é exatamente nos fazer crer nele.
Nós nos relacionamos pela nossa necessidade antropológica de contato físico, casamos por convenções sociais, temos filhos pela manutenção do nosso patrimônio material e genético, transamos pela satisfação de um prazer individual e momentâneo. Depois de um tempo, dizemos: O Amor acabou! Daí os relacionamentos ficam frios, os casamentos enfadonhos, as trepadas espaçadas e burocráticas. Então partimos pra outra, certos de que dessa vez vamos acertar. E tudo se repete.
Como é que pode acabar aquele que é dito como o sentimento humano por excelência? A sublimação de todas as virtudes, o que cobre a multidão das nossas faltas? Como é que vamos da felicidade absoluta para a depressão mórbida? Do desejo incontrolável de estar junto para a apatia e o descaso? Das cartas todas ridículas para o esquecimento e até mesmo a indisposição (pra não dizer ódio, que isso aqui já está seco demais)?
Mas a culpa, afinal, nem deve ser do Amor. Eros é só uma criança inconseqüente brincando de índio. Que sabe ele da vida, da malícia do mundo, dos nossos jogos de sedução? Que culpa ele tem se só vemos o imediato?
No final das contas o problema é meu. Tem tanta gente aí super satisfeita. Senta num banquinho na porta de casa e tá tudo muito bom. Não sabe se é carnaval, semana santa, julho, ou natal e tá tudo muito certo. Não se pergunta se ama alguém, ou se alguém lhe ama, que essa palavra é tão clichê, ou esse sentimento parece que só cabe na novela e leva a vida sem um beijo e tá tudo muito justo. Ou tudo isso é tão significativo porque é simples e natural que aconteça que a rua tem todo o sentido, os dias a mesma importância, o amor é algo que simplesmente vem e quando o beijo acompanha, é terno e doce e calmo e dado porque um beijo só tem sentido se sair da gente. E eu aqui querendo e me consumindo nesses quereres. Leso!
Comecei com música e termino com música. Quase um pedido de socorro: “Só peço a você um favor, se puder: não me esqueça num canto qualquer.”*
(*) O Caderno. Chico Buarque.
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