sábado, julho 12, 2008

EU 15

Entrei numa de ficas triste. Essas tristezas injustificadas que só fazem bem a ninguém; dessas em que só a gente pensa que a gente é coitadinho. O fato é que eu dei pra ficar triste, calado, cenho franzido, pelos cantos. Nenhum convite era bom, nenhuma comida gostosa, o barulho incomodava, o silêncio incomodava. Tudo, enfim, incomodava.

A festa tinha um quê de tradição. Minha casa, meus vizinhos, nossos parentes e amigos, todos vinham, comida à vontade, bebida no balde, música. Eu olhando aquilo de longe que ainda estava triste. Enchi uma caneca com leite e saí pra rua como estava: chinelo, bermuda, peito nu. Andei na calçada, fui olhar a pracinha, vi os carros chegando, o povo chegando. Um amigo passou por mim, cerveja na mão, e seguiu reto. Não me viu, ou fez que não me viu. Também, eu tava um saco mesmo. Deixa ele! Só que fiquei mais triste. Queria atenção, que ele falasse comigo. Mas ele ria de alguma piada idiota e entornava cerveja. Que se dane! Dei de ombros e entrei em casa. Joguei o leite na pia, abri a torneira até que a água passasse de leitosa à cristalina.

Quando comecei a lavar a caneca ele entrou na cozinha, o copo novamente cheio, o mesmo sorriso aberto. Que tinha me visto – que foi falar com um amigo – que quando olhou eu tinha sumido – que disseram que eu tava ali. Falava tanto e tão rápido, sempre rindo, intercalando com cerveja, que eu não tinha tempo pra responder. Daí ele começou a dizer que entendia como eu me sentia (?!) e que voltava depois pra gente colocar o papo em dia. E como eu ainda estivesse na pia, caneca cheia de sabão, me abraçou colando o peito às minhas costas. Afastou o copo de cerveja e enlaçou com o braço direito minha barriga. Disse que a gente se falava e eu disse que sim, obrigado.

Permanecemos onde estávamos, sem uma palavra, ou ruído, só nossas respirações e uma vontade de ficar juntos que era a primeira vez que a gente tinha que sempre fomos amigos e nada daquilo tinha sequer passado pelas nossas cabeças. E fomos ficando, uns movimentos leves, uns suspiros e sem mais nada subimos correndo as escadas.

Ele entrou, tirou a camisa, abriu um botão e deitou na cama.

Eu entrei, tranquei a porta e fiquei (penso) longos minutos com a testa na madeira e a mão na chave.

Quando ele me perguntou o que é que a gente fazia agora eu pedi silêncio. Falar pra quê? Melhor não.

Ele acordou bem tarde. Eu nem tinha dormido, mas me deixei ficar ali quieto, deitado, olhando seu sono que era satisfação e álcool e algum cansaço. Continuamos calados ouvindo a música abafada de uma festa sem hora pra acabar. Perguntou se eu queria descer, eu disse que não; se ele podia voltar, respondi que sem problemas... se ele quisesse... que sim, claro!

A gente se fala, ele disse.

Sim. Obrigado!

Belém, Pará

11 de julho de 2008.

19h00 (revisado)

Um comentário:

Anônimo disse...

Que belo! Amo como tu arrumas as palvras frente a tela, papel...
gosto mesmo do que tu escreves e acho mais belo ainda tua coragem (sei mesmo o quanto é dificil)de fazer com que teus textos sejam publicados,para o deleite de todos!
beijos no fundo do coração