quinta-feira, julho 31, 2008

BROCARDOS. (2)

Em entrevista durante as comemorações dos 80 anos da Policia Rodoviária Federal, em Brasília, seu coordenador social, inspetor Alexandre Castilho disse que um motorista não pode se recusar a fazer o teste do bafômetro como preceitua a Lei Seca em vigor no país. Segundo Castilho, todo cidadão temo direito de ir e vir, mas não de dirigir. Esta seria uma concessão do Estado. Ao solicitar permissão para dirigir o cidadão aceita os critérios para tal e se não se submete a elas torna-se passível de ter seus direitos caçados.

Já para Percival Menon Maricato, diretor jurídico da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, ir e vir é um direito constitucional e dirigir um veículo está implicitamente relacionado a esse direito. Logo, o Estado tem obrigação de conceder carteira de motorista já que exige esse documento para a condução de automóveis. Se não fosse assim estaria indo de encontro a sua própria constituição. Maricato conseguiu junto ao Tribunal de Justiça de São Paulo habeas corpus para não ser punido por recusar se submeter ao teste do bafômetro. O documento se baseia no artigo 8º da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, de 1969, da qual o Brasil é signatário e que diz ser direito de cada pessoa não depor contra si mesma.

Muito se discutiu desde que a lei que prevê penas graves àqueles pegos dirigindo após o consumo de bebidas alcoólicas foi instituída. E muito ainda se discutirá. E muitos ainda morrerão no trânsito vitimados não pelo álcool em si, mas pela irresponsabilidade de alguns motoristas com a vida alheia. Se eu defendo a Lei Seca? Claro! Seus benefícios são inegáveis e os prejuízos mínimos. Nenhum bar vai fechar as portas, não haverá desemprego em massa de garçons e condutores, as indústrias de bebidas não vão falir e os taxistas agradecem. O povo já deu o seu jeitinho de garantir sua ração de álcool: aluguel de vans, táxis, ônibus, rodízio de quem bebe e quem dirige, a troca por bebidas não alcoólicas (o que, pasmem, não diminuiu a diversão!!!) e por aí vai.

Mas a alegria ainda está longe de ser total. As estatísticas indicam um número menor de acidentes e vítimas no trânsito porque um dos elementos responsáveis por esses eventos foi atenuado. No entanto, o desrespeito à vida continua. Muitos, amparados pela impossibilidade das autoridades em fiscalizar devidamente o cumprimento das leis, na sensação de impunidade que é contundente neste Brasil de Murietas e Dantas, na despersonalização do outro enquanto indivíduo, concidadão e irmão, na sensação egoísta de superioridade num claro desvio de valores, bebem e dirigem, trafegam em alta velocidade, avançam sinais, pilotam de forma arriscada, exibem-se despropositalmente, tratam veículos menores e pedestres como obstáculos ao seu livre trânsito, ignoram sinalizações, corrompem agentes de trânsito e tratam a via pública numa deturpada idéia de coisa própria. Para esta questão não há lei – ainda que de leis precisem os homens –, mas educação, uma que extrapole o significado de símbolos e cores, uma educação moral e ética, onde liberdade e direitos andem a braços com ordem e deveres.

HUDSON ANDRADE

24 de julho de 2008 AD. 11h31


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