“Maria do povo meu.”
(Maria de Nazaré. Pe. Zezinho)
A santinha sempre em seu plástico de fábrica. A madona reluzindo a folhas de ouro.
Maria de barro, Maria de gesso. Maria de cera, de madeira.
A imagem pequenina incrustada no seu manto tão característico. A estátua com sua veste original (que eu sempre achei tão mais bonito!).
A Maria pequenina que vai de casa em casa: “Nossa Senhora vem aqui!”, ou “Hoje a Santa dorme em casa.” O melhor ponto da sala. Base alta. Toalha de renda. Balão de borracha. Flor de plástico. Fita de cetim. vela, que a Santa “não pode dormir no escuro.” Na periferia, no centro, nos condomínios, nas empresas, repartições. A berlinda é uma cesta, uma casa de isopor, uma réplica de arame, um andor de miriti e que vai e de volta a uma igreja de onde parte para uma nova morada – graça sorteada, prêmio ao coração.
E é sempre ela: Maria. Mãezinha. Rainha.
No Domingo os pés têm um só rumo, os olhos só vêem a Berlinda, as mãos todas se erguem ao céu. Toda boca tem um pedido, toda cabeça uma promessa, cada coração uma esperança.
“Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre: Jesus!”
Uma casa, trabalho, saúde. Obrigado! Uma cura, uma prova, um concurso. Obrigada!
Pela minha mãe... os meus irmãos... aquele filho... minha esposa. Todos nós.
“Livrai-nos do fogo do Inferno. Levai as almas todas para o Céu.”
E é sempre ela: Maria. Advogada. Intercessora.
Maria que põe na mesma Corda o homem e a mulher. O que pede e o que agradece. Quem vai por si, ou pelo outro.
“A vós recorremos...”
Estrelas de pólvora transformando o dia numa noite barulhenta.
Aqui se canta: “Ave, ave, ó Senhora da Berlinda...”
Ali se reza: “Ó, Maria concebida sem pecado...” e se pede: “Olhai por nós que recorremos a vós...”
Nesse dia até Deus fica um pouco menor e por ser Deus não dá a isso qualquer importância e brinca com o Cristo sorridente: “Eis aí tua mãe!”
Todos: os Santos nas nuvens, os anjos empoleirados nos ombros paternos, o povo nos galhos das figueiras da Boulevard,nas janelas dos edifícios, esperando nas calçadas. “Ave, Maria.” Todos. “Amém!”
E pato. E maniçoba. E cervejinha. Cervejinha, sim. Não é ela que paga a festa? O cansaço, o sono, o porre.
E tudo sossega.
A vela apaga. Quem se lembra?
Tudo adormece.
Enfim quieta, Maria suspira.
Ajeita o Menino nos braços, confere o bordado do manto.
Sorri.
Amanhã tem mais.
Ô, Glória!
HUDSON ANDRADE
07 de outubro de 2011 AD
14h46
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