sábado, abril 11, 2009

BROCARDOS (10)



É como dizem os antigos: A gente cobre um santo e descobre outro. Para amenizar a crise que vai comendo tudo o que encontra e que no Brasil ainda está bem disfarçada (?!) o governo reduziu o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos setores automotivo e de construção. Com isso, deixa de arrecadar, segundo o ministro da fazenda, Guido Mantega, 1,5 bilhão de reais. Santo descoberto, quem paga a conta do prejuízo? A decisão do governo federal foi de aumentar a carga tributária (IPI, PIS, COFINS) sobre os cigarros a partir de primeiro de maio, com encarecimento do produto em torno de 20 a 25%. Para Mantega a decisão é duplamente positiva. Recupera-se o dinheiro perdido e desestimula-se o consumo de cigarros. “É melhor que o fumante sinta no bolso do que nos pulmões”, afirmou o ministro.
Nem vou tentar entender o que significa aumentar daqui e reduzir de lá para compensar de cá o que ali está faltando. Deixo isso pros matemáticos, contadores e políticos cujas contas nunca me parecem racionais. Sobretudo estes últimos.
Mas vejamos na prática. O preço dos cigarros aumenta, mas e daí? Dia desses numa entrevista que me fizeram eu disse que os cigarros não são assim tão venenosos quanto dizem, afinal, completei, os fumantes demoram tanto a morrer! Cruel?! Pode ser! Não mais do que as guimbas, fumaças, beijos amargos e venenos que eles espalham pelo ar. Também não vou entrar nessa seara. Seria chover no molhado. A questão que quero discutir é esse aumento de preço versus desestimulação de consumo. Fumantes são viciados. Dependentes. Eles buscarão o cigarro independente do preço que ele custe, porque fisiologicamente o corpo exigirá isso. Se os preços aumentarem demais, alternativas baratas e certamente mais perigosas aparecerão. Vide o consumo desenfreado de crack. “Quem não pode Nova York vai de Madureira”, canta o Zeca Baleiro. Já existem marcas de cigarro extremamente baratas e é de se questionar sua produção, a qualidade da sua matéria-prima, aditivos e tudo o mais. Esse cenário se repete em outros setores. Todos os de consumo, arriscaria dizer. De medicamentos genéricos, repudiados por alguns, mas a diferença (por vezes de vida e morte) para milhares de assalariados. Eu uso e confio! Passamos por cosméticos, bebidas. Tudo! O mercado precisa atender todas as camadas. A ganância idem! Quando os cigarros estiverem com seu preço elevadíssimo e suas alternativas genéricas começarem a minar pulmões e bolsos de centenas e centenas de brasileiros, o governo federal – e aí não será mais o Sr. Mantega, que estará gozando alguma aposentadoria perpétua em algum lugar gostoso! – terá outro grave problema de saúde pública para resolver.
Que santo então ficará sem sua manta?

HUDSON ANDRADE
11 de abril de 2009 AD
9h50

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