quinta-feira, maio 08, 2008

BROCARDOS. (1)

Eu não entendo de leis. Meu irmão, sim. Restrinjo-me, vagamente a dizer o que acho certo e errado; bom, ou mau, justo, incoerente, ilegal, ou moral, por isso não vou tentar argumentar em seara desconhecida. Falo movido pela indignação!

Segundo esse mesmo meu irmão, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá devem aguardar o julgamento em liberdade. Pela lei é assim. A promotoria, no entanto, corre contra o tempo para que eles sejam submetidos a júri popular, onde as chances de condenação são maiores. Para isso é preciso aproveitar o rumor dos fatos, as capas de revista, as primeiras páginas dos jornais, as chamadas nos telejornais, que já estão rareando, ou ficando em segundo, terceiro, quarto plano, preocupados “que estamos” com Ronaldo Fenômeno e seus travestis.

Outro caso tipicamente movido pela homofobia e preconceito da nossa liberal sociedade brasileira. Fossem mulheres e não haveria razão pra tanto rebuliço, afinal, todo macho que se preza tem o direito de sair “pá pega umas puta!”

E o que sobra em homofobia falta em visibilidade num caso bem mais próximo de nós: o assassinado de Benedito Rodrigues Neto, simplesmente Neto para nós que vivíamos mais ou menos próximos dele. Professor universitário, ator, diretor de teatro, estudioso das artes cênicas. Nenhum desses predicados é capaz de motivar uma investigação decente. Tudo se resume a mais um caso em que a bichinha abriu a porta pra Morte. Nada que valha um esforço policial, capa de revista, primeira página de jornal. Todos nós abrimos nossas portas a quem conhecemos e confiamos. Nenhum de nós, no entanto, merece ser julgado, condenado e punido pelas orientações que tomamos na vida.

Na minha opinião o casal Nardoni e Jatobá são responsáveis pela morte da Isabela, mas não devem se tornar os bodes expiatórios de uma sociedade desestruturada e deseducada. O grande mote dessa condenação é dar uma satisfação ao povo que clama desesperado por justiça. Tão desesperado que se pudesse, a tomaria nas próprias mãos, como não tão eventualmente assim acontece. Puni-los exemplarmente nos dará chance de respirarmos mais aliviados até a Copa de 2010, quando ninguém mais se lembrará de Isabelas, Pedrinhos, Otas e outros tantos anônimos.

A meu ver, o cardápio do Sr. Ronaldo Nazário e suas variações pouco se me dão. Os travestis vão aproveitar o momento fugaz para dar um close a mais e aumentar seus cachês, mas logo, logo voltarão à pasmaceira. Quando muito haverá uma marchinha sobre isso no próximo carnaval, se é que alguém ainda faz marchinhas de carnaval.

O Neto, Genú, Melo e sabe-se lá mais quantos vão continuar avermelhando as páginas dos jornais e as faces dos cidadãos de bem de nossa provinciana cidade. Núbia Goiano e dezenas de outros cidadãos vão se tornar estatística e seus números vão se confundir aos outros, velhos e futuros.

Nós – não tantos – vamos nos indignar (não tanto).

O Sr. Raifran Neves, de coração tão grande e bom, poderia também assumir essas responsabilidades. Se permitiu que um homem honesto voltasse ao seio da sua família, pode perfeitamente permitir que um casal tão emocionalmente abalado retome sua vida e cuidados com os filhos pequenos, dessa vez numa casa térrea e confortável. Se gritar que odeia esse bando de viados, permitirá que suspiremos aliviados por não sermos os únicos, dando calma ao nosso coração. Cada um de nós saberá recompensá-lo no que for de direito!

Bons tempos o da Inquisição, em que bastava atear fogo a uma tora de madeira pra que as portas do Paraíso se abrissem aos bons e aos justos.

HUDSON ANDRADE

07 de maio de 2008 AD

9h10

Um comentário:

Yúdice Andrade disse...

Mano, acabei de postar sobre o caso do Neto em meu blog.
Lamento todas essas distorções sociais absurdas. Também escrevi sobre D. Núbia. Alguns dos meus poucos leitores escreveram, manifestando solidariedade, mas o que eu realmente gostaria nunca aconteceu: saber que a polícia identificou e prendeu os culpados, colocando-os à disposição da justiça.
Não, disso não escutamos falar. Causa-me enorme aflição que seja assim também em relação ao Neto. E praticamente assim, em relação ao João Lucas. Daí a importância de mobilização nossa, como cidadãos. O máximo possível.