sábado, outubro 18, 2008

É SÓ SENTIR O VENTO FLUIR...

...sentar, relaxar e rir. Quando a Sorte te Solta um Cisne na Noite (cisnÊ e não cisnEM) é a nova produção do Cuíra, direção de Wlad Lima e Karine Jansen, premiado com o Myriam Muniz, da FUNARTE e que entrou em cartaz no último dia 17 de outubro.
Até novembro, todas as noites de sexta, sábado e domingo serão cinza, prata e preto. Algum branco. Meia maquiagem, música, a alegria e o deboche característico de quem decidiu nadar contra a corrente e dar a cara à tapa pra amar e gozar com quem lhe é semelhante.
Com dramaturgia de Edyr Proença, Quando a sorte... é um espetáculo gay. Retrata em quadros os amores, os desencontros, a solidão, a culpa, a festa, os relacionamentos bem, ou mal resolvidos, os choques – com o outro, consigo –, um jeito de ser que não permite meios termos. O espetáculo também não vai te dar essa opção. Vais gostar, ou não vais gostar. Odiar? Nunca! A diversão é garantida, até alguma identificação. Dá pra pensar em um monte de coisas e até rever alguns conceitos, ou reforçá-los.
No entanto a dramaturgia é exatamente o ponto delicado do espetáculo. Uns textos têm um quê de panfletário, outros ficam nas margens daquilo que se quer dizer sem nunca ir lá no fundo. Todos precisavam dizer mais. Ou menos. E deixar a encenação resolver as coisas como faz em muitos momentos. Em Quando a Sorte... as imagens são muito mais contundentes. O espetáculo começa pra cima, convidando à festa e à dança. O público quer bater palmas (e bate mesmo!), subir no palco (eu queria!), balancê! A cena imediatamente seguinte é dessas em que basta o que se vê: incisiva, dura, um tapa que logo depois é soprado com mais luz e bandalheira. E assim vamos, pra cima e pra baixo, uma gangorra estranha, mas deliciosa. Às vezes o problema do texto nem é o texto em si, mas ser mal dito. Noutros, atores mais experimentados acabam presos numa laçada curta. Os quadros que compõem o espetáculo são criados em cima de uma linha mestra e se resolvem em si mesmos, mas por não conversarem com os demais, deixam uma sensação de incompletude, ou de excesso, como os shows de transformistas numa boate. De repente a idéia é até essa. Por que não?!
O figurino de Maurício Franco é objetivo, bonito, confortável. A luz que se esperaria excessiva, colorida, é pontual, porque ser gay é viver sempre na sombra, uma espécie de segredo guardado cuidadosamente numa Ana Maria que a gente só vê no espelho do banheiro.
Quem sair do Espaço Cuíra depois de Quando a Sorte te Solta um Cisne na Noite (cisnÊ, meus amores, não cisnEM!) vai cantarolando “Tomorrow, tomorrow, I will survive...” até em casa. Ou vai emendar, que dá vontade de esticar a noite na caça dessa ave de canto raro, que parece nunca ter uma nota sequer pra quem decidiu nadar contra a corrente e dar a cara à tapa amando e gozando com quem lhe é semelhante.

Ah! Viado só dá o cú porque é cú que tem que dar mesmo. Se desse buceta não
seria viado. Daí, que graça teria?!

SERVIÇO:
Quando a Sorte te Solta um Cisne na Noite.
Músicas e Dramaturgia: Edyr Proença
Músicas cantadas por Walter Bandeira, Marco Monteiro e Nilson Chaves
Produção executiva: Zé Charone
Direção: Wlad Lima e Karine Jansen
Elenco: Olinda Charone, Paulo Marat, André Mardock, Ronald Bergman, Roma Muniz, Fábio Tavares, Wanderley Lima, Maurício Franco, Thiago Ferradaes, Michel Amorim, Rafael Cabral, Ícaro Gaya e Lucas Gouvêa.
No Espaço Cuíra (Riachuelo com Primeiro de Março), de 17 de outubro a novembro de 2008, sextas e sábados às 21 horas, domingo às 20 horas.
Ingressos: R$ 20,00
Veja imagens no You Tube: http://br.youtube.com/watch?v=jboZZD2geVw

HUDSON ANDRADE
Belém, Pará, 18 de outubro de 2008. 10h15.

4 comentários:

Mardock disse...

Primeiro eu te peço mil desculpas pelo celular desligado no dia da apresentação...rs. Gostei do que li em teu blog. É importantíssimo sacar esses ecos do trabalho...e de como isso chega em pessoas sensíveis como vc cara.
Um grande abraço e MERDA!!

Marcelo Marat disse...

Vamos ver, vamos ver... Depois te falo o que achei...

Anônimo disse...

Hudson
Que alegria saber que vc assistiu ao Cisne! Você precisa me desculpar se, por exemplo, não falei consigo. De verdade, após sua transformação, não o reconheço. Uma vez, chegamos a falar, na porta do Cuíra, eu sem saber quem era, imagine. De qualquer maneira, em relação aos textos, bom que vc tenha comentado. A estrutura da peça foi montada dessa maneira. Os textos às vezes não estão ligados, outras sim. Terminam ou não. Um mosaico, talvez. Enfim. Bacana vc ter escrito. Quanto ao negócio de ter boceta e não cu, foi avisado, pelo grupo, do clima de farra e alegria que ali tomaria conta. É apenas uma brincadeira. Foi isso. Quem sabe vc não volta e revê tudo isso?
Abs
Sou fã número 1 do glob do teu irmão, a quem não conheço pessoalmente, mas me considero grande amigo, através da web

Hudson Andrade disse...

Mardock, cara! aí... relaxa! O celular tinha mais era que estar desligado mesmo.

Marat, vai assistir, sim. Divirta-se!

Edyr, obrigado pelo retorno. Esperava muito por isso e quando vi que tinhas escrito, me deu até um frio na barriga. Não poderia deixar de assistir, ou comentar. Entendo a estrutura da peça e entendi a brincadeira. Só fiz outra em cima. E vou voltar. Claro! Daí a gente se fala, que eu também fui indelicado e não te cumprimentei!
Obrigado por mim e pelo meu irmão.

Abraços a todos!