segunda-feira, abril 14, 2008

FRIO POR DENTRO E POR FORA

Depois de um longo e tenebroso inverno eis que voltamos. Mas o frio persiste.
Nos últimos dias 06 e 13 de abril estive no Teatro Margarida Schiwazzappa, no CENTUR. No primeiro dia assisti Homem de Barro, da Companhia de Intérpretes Independentes (AM), dirigida pelo paraense Ricardo Risuenho, radicado em Manaus. Ontem foi a vez de Amor e Loucura, do grupo baiano A Roda, que utiliza a linguagem de formas animadas.
Homem de Barro surge de um trabalho interdisciplinar de profissionais das áreas de humanas e biológicas. Enquanto estudo está perfeitamente embasado na teoria e experimentação que Risuenho propôs. Como espetáculo, é frio e distanciado como uma aula expositiva; tão burocrático e formal quanto o capítulo sobre doenças da pele lido em cena pelo coreógrafo e diretor. Em cerca de 40 minutos de coreografias simples e recursos áudio-visuais, o espetáculo se arrasta confuso e ao final sem que a campa toque, o público (pelo menos os não iniciados) sai sem ter compreendido bem a matéria.
Amor e Loucura utiliza elementos mitológicos para falar de dois sentimentos humanos que parecem andar lado a lado. Na seqüência final o Amor – Cupido cego – montado na Loucura, dispara continuamente suas setas a esmo. Apesar de bela a significativa, a imagem não me emocionou. Na verdade o espetáculo não emociona. Amor e Loucura é a prova de que teatro só funciona pelo encadeamento total dos elementos que o constituem. O texto, suntuoso, mas um tanto obscuro, entra em off numa voz feminina e monocórdia que em poucos dos quase 90 minutos de espetáculo provoca uma sonolência quase tão irresistível quanto as flechas envenenada do Amor. A luz não delineia bem as cenas que em alguns momentos ficam na penumbra, mal definidas se fazem parte do espetáculo, ou se são transições de uma cena para outra. Os belíssimos bonecos e elementos em madeira e ferro, detalhados, articulados, criam imagens que se seguem a imagens sem, no entanto, deixarem de ser apenas isso: imagens. Essa falta de conexão cria aquelas situações constrangedoras de se dizer, “o espetáculo?... bonito o cenário, não?!”
Saí para a rua numa Belém vazia e chuvosa sem que tivesse conseguido aquecer meus sentidos e coração.
O que será que me aguarda daqui sete dias?

Ah! Vou procurar ser mais presente.

Belém, Pará, 14 de abril de 2008.
11h30

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