Sentei no banco e procurei controlar a respiração. O pequeno telhado que nos protegia ainda pingava e os arbustos e flores em torno, enfeitados de pingentes, permaneciam imóveis. No alto, algumas nuvens se desfaziam em gotas pequenas e esparsas; outras eram desfiadas pelo vento.
Olhando o céu quase escuro, em parte pela chuva, em parte pela hora, pensei se demorarias, me recusando a olhar o relógio.
E assim foi por 20 minutos.
Bem em frente, num coreto, um casal se abraçava, ele protegendo a namorada – penso que era sua namorada – do vento frio que corria. Ela, aconchegada, colocava as mãos por sob a camisa dele, às costas, aquecendo as palmas. Nenhum dos dois dizia nada. A moça permanecia mesmo de olhos fechados, entregue, um leve sorriso no rosto, enquanto o jovem, atento, olhava sério o entorno.
Fazia muito tempo desde a última vez que estivemos abraçados daquele jeito quase displicente. Nos poucos momentos em que estivemos juntos, os abraços foram sociais, apertos de mão burocráticos, cumprimentos formais, olhares e sorrisos camuflados. Procurei não pensar que não sentias falta do meu calor.
E assim foi por 30 minutos.
Um rapaz moreno sentou na outra ponta do banco. Parecia um pouco ansioso. Perguntou as horas. Menti que não sabia dizê-las! Num instante um grupo ruidoso de rapazes apareceu e meu vizinho se foi, deixando um rastro desagradável de fumaça de cigarro. Uma senhora, cabelos brancos, também sentou no meu banco. Chegou lenta, permaneceu com a calma de quem não espera muito mais da vida e foi embora devagar, apoiando o corpo em uma perna de cada vez. E um rapaz com um violão, mas ele não tocou; e um senhor que discutia negócios ao celular e uma mocinha que procurava emprego nos classificados do jornal, marcando círculos com hidrocor vermelha.
Nenhuma daquelas pessoas me dirigiu mais do que um olhar, ou uma pergunta simples. Ficamos sentados em lados opostos de um mesmo banco de praça, indiferentes um aos outros. Me esforcei pra não pensar em nós, que há muito permanecíamos (indiferentes) em lados opostos de uma conexão virtual.
E assim foi por uma hora!
Quando por fim levantei não havia mais quase ninguém na praça e as luzes dos postes já tinham se acendido há tempos. Não vieste. Nunca vinhas! Esperei porque... Por que?
Iria pra casa, trocaria os lençóis, colocaria no cesto de roupa suja as peças que usaste pra dormir muito tempo atrás, trocaria o retrato no criado mudo, alteraria meu perfil no Orkut e te escreveria um e-mail de despedida... Deu saudade dos bilhetes com letra caprichada no papel, com algum perfume de quem os escreveu e que dava vontade de guardar entre as folhas de algum livro. Deu saudade de tanta coisa. Até mesmo de ti. Mas rápido deletei aquele pensamento, julgando por orgulho que eu não tinha lugar nos teus.
E foi assim pra sempre!!
10.09.2007. 3h05 – 9h26.
Um comentário:
Oi, Hudson. Adorei o novo visual do blog, assim como dos teus textos. Vc transmite paixão no que faz, seja no palco ou escrevendo. É cativante... Sou tua fã. Lu.
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