sábado, janeiro 10, 2009

dançAmemóRiaTEatro (Parte II)

O indutor de Ronald Bergman é sua origem. O de Miguel Santa Brígida é sua paixão. A dança do Mestre-sala e da Porta-bandeira é uma instalação coreográfica. Artes plásticas no figurino de Eduardo Wagner que vai desnudando os atores no persurso inverso até a origem dessa peculiar dança consagrada pelo carnaval, aqui mesmo em Belém, com a mesma paixão, garra e elegância que caracterizam o institucionalizado carnaval carioca. Plástica ainda nas bandeiras e cetros e demais adereços cheios de símbolos. Teatro na poesia dos textos de Flávio Negrão e Carol Pabiq e no retorno à cena de Miguel Santa Brígida que interfere, branco e prata, com cheiros, serpentinas e cores. É música nos sambas de enredo e é claro, dança.
O trio em cena é coeso, mas falta maior precisão nas trocas de roupa e algumas marcas que ainda estão marcas. Falta precisão nas falas. Sobra a alegria momesca, o gingado, a irreverência que nos enche de vontade de também estar em cena.

Por fim, mas não menos importante, Iracema Voa, que Ester Sá construiu a partir de citações, histórias e músicas de e sobre Iracema Oliveira: cantora, atriz de rádio, cinema e televisão e que agora dirige o Pássaro Tucano e as pastorinhas Filhas de Sião; memória viva da arte em Belém. Foi emocionante compartilhar a platéia com essa mulher lúcida e festiva e com Ester, que conta histórias, canta e dá vida (ou seria toma a vida?) a artista para recriá-la e recriar-se, fazendo do teatro o veículo. O espetáculo começa com uma exposição fotográfica, passa pela contação de histórias, tem música ao vivo e gravada, interage com o público e envolve a todos e é impossível à própria atriz e a nós não se emocionar às lágrimas. Ester tem um talento especial para fazer vozes e personagens, para nos fazer rir e contou com o apoio de uma grande equipe onde destacamos a luz de Sônia Lopes, as vozes de Paulo Marat, Pauliane Banhos e o grande cenário-figurino-relicário de Mestre Nato, artista das antigas e ainda em plena e talentosa atividade.
Penso que enquanto recorte poderíamos ter menos informações - ou conduzí-las em imagens, canções, etc -, o que reduziria um pouco o tempo do espetáculo e lhe daria mais dinamismo. Entendo a vontade de contar tudo, de falar muito e a própria Ester me dizia da preocupação em interpretar alguém ainda vivo e que a observaria. Como ser ela? A atriz não cedeu à tentação de ser Iracema; ela é a Iracema pelo filtro de outra mulher com toda uma bagagem própria de experiências. E assim ganhamos todos. Flores. Que a Arte semeie nas nossas vidas e que nos é devido regar, multiplicar e distribuir.

HUDSON ANDRADE
17 de dezembro de 2008 AD
16h30

Vaqueiro (a), substantivo: (01) Aquele que vai no vácuo dos outros para ingressar sem custo em festas, teatros, cinemas, jantares, caronas, etc...; (02) cara de pau... Vixe! A lista é extensa!

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