sexta-feira, abril 15, 2011

VOCÊ TEM MEDO DE QUÊ?!




O Sr. Jair Bolsonaro ao se defender das acusações de preconceito racial feitas pela cantora Preta Gil às suas declarações no programa CQC disse ter entendido a pergunta como tendo questões homossexuais. “Que pai quer ter um filho gay?!” ele perguntou. E por que ele se defendeu assim? Porque ele sabe que preconceito racial é crime, mas não há sequer intenção de criminalizar a homofobia. Lamentável!
Depois o jogador de vôlei Michael (Vôlei Futuro) moveu ação contra a torcida de um time adversário que, incessantemente, clamava “Bicha! Bicha!” durante partida da qual ele participava. O clube se defendeu dizendo que repudiava qualquer comportamento discriminatório quanto a dita “opção” sexual.
Até quando nossos legisladores vão resistir ao fato de que é imprescindível tomar providências quanto a um estado de coisas que vai do achincalhe de natureza cultural em quadra até agressões em plena avenida Paulista após as festas de ano novo e tantos assassinatos sempre impunes? Sem desmerecer leis como Maria da Penha, ou o Estatuto do Idoso, é bom ver que eles seriam totalmente desnecessários se o cidadão reconhecesse no outro o ser humano que ele é na sua integralidade, integridade e alteridade. Se nós soubéssemos nos reger pelo que é justo, as leis seriam outras, mas infelizmente ainda é necessária a rudeza da legislação humana, o cárcere e mesmo a morte que, felizmente, ainda não é penalidade em nosso país.
Nesse Brasil de contrastes o Sr. Bolsonaro é membro de uma comissão de Direitos Humanos apesar de um histórico de ditos e feitos preconceituosos. A repercussão agora foi maior e a ação movida por Preta Gil e o jogador Michael engrossam um caldo ainda ralo em defesa de um grupo de homens e mulheres que exercem seus direitos e deveres e devem ser respeitados em sua natureza sexual quanto por sua simples humanidade. Há que se mudar já o pensamento de que ser homossexual é demérito, desvio, doença. Chamar Michael de bicha é algo corrente. Bicha, viado entre outros são naturalmente usados para agredir mesmo os não homossexuais pelo simples prazer de ofender. Astros de cinema, TV e música – alvos de inveja –, são frequentemente tachados de homossexuais. A frase “tu é fresco, é?” corre de boca em boca para determinar um comportamento não aceito por determinado grupo; “Deixa da tua frescura!” denota fraqueza física e de caráter.
Nós, homossexuais, precisamos tomar partido. Sem perder a alegria e a naturalidade, não descambar no deboche e no ridículo. Sem deixar de lutar pelo que cremos, não enveredarmos pela heterofobia tão perniciosa e violenta quanto a homofobia que criticamos. Lutar pelo nosso lugar ao sol sem perder de vista que a aceitação é fruto do respeito e da dignidade contra as quais nem todo um estádio de Bolsonaros pode contrariar e abafar.

HUDSON ANDRADE
07 de abril de 2011 AD
9h17