segunda-feira, abril 27, 2009

RABISCOS DE LUZ


Em cartaz no Espaço Cuíra Depois de Revelado Nada Mais Muda, com o bailarino Danilo Bracchi e as atrizes... (?)
Em cartaz no Espaço Cuíra Depois de Revelado Nada Mais Muda, com as atrizes France Moura e Marluce Oliveira e o bailarino ... (!)
Parece confuso? Só à primeira vista. Depois de Revelado Nada Mais Muda é, nas palavras do seu criador e intérprete, Danilo Bracchi, um espetáculo de dança contemporânea. E por que tantos elementos teatrais? Porque a dança contemporânea é isso, assim como as suas referências, enfatiza Bracchi. 10.000 coreógrafos existam e 10.000 danças contemporâneas existiriam, bebendo do balé clássico, dança moderna, jazz, performances, artes circenses e, claro, teatro. Este, segundo Danilo,ainda muito resistente à intromissão das sapatilhas. (E acreditem, eu sei bem o que é isso!)
E que mal há nessa interdisciplinaridade? Nenhum. Não à primeira vista! Troca-se o físico ideal pela disponibilidade corporal; o gesto tecnicamente preciso pela (re) significação do movimento que substitui a palavra e a palavra complemente mãos, braços, peito; a música já não rege 1, 2, 3, 4, vai!, mas entra no espetáculo como água, ora útil, por vezes caudalosa e puxa o corpo que reage e puxa a música que pulsa e tudo move tudo.
O perigo dessa Esfinge é ela devorar mesmo aquele que a decifra. Se a costura não é bem feita tudo fica frouxo e não há propriedade em nada.
Depois de Revelado Nada Mais Muda é o primeiro trabalho da Companhia de Investigação Cênica, resultado da Bolsa de Pesquisa do Instituto de Artes do Pará (IAP) e tem como mote a fotografia. Apresenta um grupo em franco processo de amadurecimento, um cuidado com a preparação de seus intérpretes, com a estrutura cênica do espetáculo. A música de Leonardo Venturieri é autoral e fragmentada como a própria encenação de Bracchi e a mim incomoda que ela pareça querer/poder ser mais sem nunca explodir, contentando-se em ser o que é. A iluminação de Tarik Alves é pontual. Quase um flash. Limpa e precisa. Por vezes cria penumbras que, propositais, ou não, escondem detalhes talvez importantes. Noutros momentos, mergulha a platéia nos rubro-negros das salas de revelação. A luz é, afinal, um quarto personagem dessa trama, representando objetos e personagens, sendo, afinal, luz.
Em cena, Danilo Bracchi, France Moura e Marluce Oliveira não se preocupam em contar uma história, mas sim falar desse processo de aprisionar o tempo em retângulos de papel brilhante, mesclando dança e teatro. É aí que necessitamos mais precisão para que os textos, curtos, algo técnicos, sejam tão cheios de cor e vitalidade quanto os gestos.
Do afinco e talento de seus membros a Companhia de Investigação Cênica vai se firmar e juntar a outros grupos com o Valdete Brito e a Companhia Moderno de Dança, criando novos espaços artísticos, reinventando a dança, reformulando o teatro, sendo antes de tudo, a expressão completa do artista paraense.
Arte é isso: pluralidade.
Arte é isso: única!

SERVIÇO: Depois de Revelado Nada Mais Muda. Espaço Cuíra. Dias 01, 02 e 03 de maio de 2009, sempre às 20h00. Ingressos na bilheteria. R$ 20,00. Apoio: Espaço Cuíra (a Companhia de Investigação Cênica é residente neste espaço) e Corpo Pilates. Contatos: Felipe Cortez. 8212 9182.

HUDSON ANDRADE
27 de abril de 2009 AD
10h20

sábado, abril 11, 2009

BROCARDOS (10)



É como dizem os antigos: A gente cobre um santo e descobre outro. Para amenizar a crise que vai comendo tudo o que encontra e que no Brasil ainda está bem disfarçada (?!) o governo reduziu o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos setores automotivo e de construção. Com isso, deixa de arrecadar, segundo o ministro da fazenda, Guido Mantega, 1,5 bilhão de reais. Santo descoberto, quem paga a conta do prejuízo? A decisão do governo federal foi de aumentar a carga tributária (IPI, PIS, COFINS) sobre os cigarros a partir de primeiro de maio, com encarecimento do produto em torno de 20 a 25%. Para Mantega a decisão é duplamente positiva. Recupera-se o dinheiro perdido e desestimula-se o consumo de cigarros. “É melhor que o fumante sinta no bolso do que nos pulmões”, afirmou o ministro.
Nem vou tentar entender o que significa aumentar daqui e reduzir de lá para compensar de cá o que ali está faltando. Deixo isso pros matemáticos, contadores e políticos cujas contas nunca me parecem racionais. Sobretudo estes últimos.
Mas vejamos na prática. O preço dos cigarros aumenta, mas e daí? Dia desses numa entrevista que me fizeram eu disse que os cigarros não são assim tão venenosos quanto dizem, afinal, completei, os fumantes demoram tanto a morrer! Cruel?! Pode ser! Não mais do que as guimbas, fumaças, beijos amargos e venenos que eles espalham pelo ar. Também não vou entrar nessa seara. Seria chover no molhado. A questão que quero discutir é esse aumento de preço versus desestimulação de consumo. Fumantes são viciados. Dependentes. Eles buscarão o cigarro independente do preço que ele custe, porque fisiologicamente o corpo exigirá isso. Se os preços aumentarem demais, alternativas baratas e certamente mais perigosas aparecerão. Vide o consumo desenfreado de crack. “Quem não pode Nova York vai de Madureira”, canta o Zeca Baleiro. Já existem marcas de cigarro extremamente baratas e é de se questionar sua produção, a qualidade da sua matéria-prima, aditivos e tudo o mais. Esse cenário se repete em outros setores. Todos os de consumo, arriscaria dizer. De medicamentos genéricos, repudiados por alguns, mas a diferença (por vezes de vida e morte) para milhares de assalariados. Eu uso e confio! Passamos por cosméticos, bebidas. Tudo! O mercado precisa atender todas as camadas. A ganância idem! Quando os cigarros estiverem com seu preço elevadíssimo e suas alternativas genéricas começarem a minar pulmões e bolsos de centenas e centenas de brasileiros, o governo federal – e aí não será mais o Sr. Mantega, que estará gozando alguma aposentadoria perpétua em algum lugar gostoso! – terá outro grave problema de saúde pública para resolver.
Que santo então ficará sem sua manta?

HUDSON ANDRADE
11 de abril de 2009 AD
9h50

quarta-feira, abril 01, 2009

BROCARDOS (09)


Agora por apenas 62 reais um dos maiores problemas do homem será resolvido: o tamanho do pau.
É o que garante a empresa norte americana Mr. Busyballs. Alegando que a genitália masculina fica “pouco atrativa” quando exposta ao mar, ou a piscina, ela desenvolveu uma sunga que garante o volume do membro. É a Rooster Booster (algo como “elevador de galo”. Muito forte!!!). O cliente ajusta o tamanho desejado e aí é só se jogar. Ao sair da água, garante os produtores, nenhum ajuste é necessário.
Agora não perde a cena: a menina, ou menino, vê aquela entidade saindo da água. Nossa!!! Chega junto, tudo acertado, sunga no chão... Que decepção! Ou não!
A proposta é iludir o dono do dito. Ele é que se sente incomodado com medidas. Como diria Kid Abelha, “são sempre os mesmos sonhos de quantidade e tamanho...”*
Não vou me ater ao texto tradicional de que o que importa é a performance. Isso é sabido, mas ninguém abre mão de fartura, o que, convenhamos, é muito bom. Comento essa matéria lida ontem num jornal-de-grande-circulação-de-Belém para dizer que somos criaturas insatisfeitas. O tamanho do pau, do peito, da bunda são sempre de menos. As medidas da cintura sempre demais. Quem tem cabelo liso, enrola; quem os tem crespos, alisa; se compridos, cortam. Os curtos ganham apliques; os olhos, lentes. Os pés, saltos. Para os ânimos, aditivos. Contra a timidez, álcool e anfetaminas. Pra não se comprometer, ficar, principalmente na internet, com apelidos exóticos e medidas desmesuradas. Sempre elas!
Só o que não parece ter limite é nossa vaidade e falta de amor-próprio. Para além das necessidades biológicas de uma progênie saudável, nós nos atemos mais ao exterior que degenera do que ao ser que só pode progredir. Não que beleza não seja importante. Claro que é. Assim como saúde e bem estar. A questão é quando de tempo e energia (e dinheiro) despendemos nisso e de que forma. Além do mais, colocamos nossa tranqüilidade nos gostos alheios e nos elevados (e questionáveis) padrões da sociedade e por não atendermos suas expectativas, sofremos.
Que tal lustrarmos as carecas (a minha já consome uns 100 ml de óleo de peroba!), malhar respeitando nosso biótipo, usar sapatos confortáveis? Gozar, mas também dar prazer ao parceiro (a)?
Se tu achas que só pode ser feliz parecendo isso, ou aquilo, vá em frente. Mas o que tu és de verdade, o espelho não mostra.

HUDSON ANDRADE
01 de abril de 2009 AD
16h25

(*) Garotos, de Leoni e Paula Toller.