terça-feira, janeiro 27, 2009

HAI - LU - CAIS - TWELVE

Estancam os pés.
No termo da estrada
o precipí - cio.


HUDSON ANDRADE
26 de janeiro de 2009 AD
11h22

segunda-feira, janeiro 26, 2009

HAI - LU - CAIS - ELEVEN

Teu nome: mantra
que na cabeça roda
no peito sangra.


HUDSON ANDRADE
25 de janeiro de 2009 AD
8h10

sábado, janeiro 24, 2009

HAI - LU - CAIS - TEN

Ser parte, ser só.
Estar pede tão pouco.
Permita-se ser.


HUDSON ANDRADE
19 de janeiro de 2009 AD
18h35

sexta-feira, janeiro 23, 2009

HAI - LU - CAIS - NINE

Razão, coração.
O comando exige.
O medo trava.


HUDSON ANDRADE
19 de janeiro de 2009 AD
18h31

quinta-feira, janeiro 22, 2009

HAI - LU - CAIS - EIGHT

Paixão é e não
móvel, furiosa, banal.
Prima centelha.


HUDSON ANDRADE
19 de janeiro de 2009 AD
18h29

quarta-feira, janeiro 21, 2009

HAI - LU - CAIS - SEVEN

Mão na mão, outro.
Lábio no lábio, barba.
Uma vez não basta!


HUDSON ANDRADE
16 de janeiro de 2009 AD
17h22

terça-feira, janeiro 20, 2009

HAI - LU - CAIS - SIX

O rio que corre.
Desejo é segredo
marginal tesão.


HUDSON ANDRADE
16 de janeiro de 2009 AD
17h17

segunda-feira, janeiro 19, 2009

HAI - LU - CAIS - FIVE

Trança desfeita.
Sedoso velo marrom
outros pensares.


HUDSON ANDRADE
16 de janeiro de 2009 AD
17h00

domingo, janeiro 18, 2009

HAI - LU - CAIS - FOUR

Mar esmeralda
introvertido âmbar
naufraga e ri.


HUDSON ANDRADE
16 de janeiro de 2009
16h29

sábado, janeiro 17, 2009

HAI - LU - CAIS - THREE

No anel do teu
cabelo o sol, suor,
teu corpo em pêlo.


HUDSON ANDRADE
15 de janeiro de 2009 AD
15h00

sexta-feira, janeiro 16, 2009

HAI - LU - CAIS - TWO

Teu medo é o lacre
dessa cova gris
que a minha luz lambe.


HUDSON ANDRADE
15 de janeiro de 2009.
14h15

quinta-feira, janeiro 15, 2009

HAI - LU - CAIS - ONE

03 a 14 de janeiro de 2009. Por 12 dias minha alegria pendeu numa teia de aranha (e eu nem gosto desse bicho!).
Quis a Vida (ela?!) que 2 caminhos traçassem paralelos.
Pelo que poderia ter sido e não será e pelo que será diverso do que eu (nós) desejo (amos), 12 haikais, um para cada desses dias de ansiosa dúvida e felicidade.

Em tempo: os haikais são poemas de origem japonesa que chegaram ao Brasil no início do século XX. São exercícios de concisão e sobriedade, sem obrigatoriedade de rima e título, divididos em três versos de, respectivamente, 5, 7 e 5 sílabas. Tradicionalmente fazem referência à natureza (diferente da natureza humana, ainda que aceite o ser humano como integrante dessa natureza), refere-se a um evento particular e não generalizações e apresenta este evento "acontecendo agora".
Ao ser transcrito para outras línguas, ganhou certas liberdades de estilo, sem nunca perder o laço com sua forma original. Aqui, um exercício de quem é apaixonado pela palavra e abusado por nascimento.

Teu quarto escuro
pode florescer
lírio, trigo, joio.


HUDSON ANDRADE
15 de janeiro de 2009
12h39

sábado, janeiro 10, 2009

dançAmemóRiaTEatro (Parte II)

O indutor de Ronald Bergman é sua origem. O de Miguel Santa Brígida é sua paixão. A dança do Mestre-sala e da Porta-bandeira é uma instalação coreográfica. Artes plásticas no figurino de Eduardo Wagner que vai desnudando os atores no persurso inverso até a origem dessa peculiar dança consagrada pelo carnaval, aqui mesmo em Belém, com a mesma paixão, garra e elegância que caracterizam o institucionalizado carnaval carioca. Plástica ainda nas bandeiras e cetros e demais adereços cheios de símbolos. Teatro na poesia dos textos de Flávio Negrão e Carol Pabiq e no retorno à cena de Miguel Santa Brígida que interfere, branco e prata, com cheiros, serpentinas e cores. É música nos sambas de enredo e é claro, dança.
O trio em cena é coeso, mas falta maior precisão nas trocas de roupa e algumas marcas que ainda estão marcas. Falta precisão nas falas. Sobra a alegria momesca, o gingado, a irreverência que nos enche de vontade de também estar em cena.

Por fim, mas não menos importante, Iracema Voa, que Ester Sá construiu a partir de citações, histórias e músicas de e sobre Iracema Oliveira: cantora, atriz de rádio, cinema e televisão e que agora dirige o Pássaro Tucano e as pastorinhas Filhas de Sião; memória viva da arte em Belém. Foi emocionante compartilhar a platéia com essa mulher lúcida e festiva e com Ester, que conta histórias, canta e dá vida (ou seria toma a vida?) a artista para recriá-la e recriar-se, fazendo do teatro o veículo. O espetáculo começa com uma exposição fotográfica, passa pela contação de histórias, tem música ao vivo e gravada, interage com o público e envolve a todos e é impossível à própria atriz e a nós não se emocionar às lágrimas. Ester tem um talento especial para fazer vozes e personagens, para nos fazer rir e contou com o apoio de uma grande equipe onde destacamos a luz de Sônia Lopes, as vozes de Paulo Marat, Pauliane Banhos e o grande cenário-figurino-relicário de Mestre Nato, artista das antigas e ainda em plena e talentosa atividade.
Penso que enquanto recorte poderíamos ter menos informações - ou conduzí-las em imagens, canções, etc -, o que reduziria um pouco o tempo do espetáculo e lhe daria mais dinamismo. Entendo a vontade de contar tudo, de falar muito e a própria Ester me dizia da preocupação em interpretar alguém ainda vivo e que a observaria. Como ser ela? A atriz não cedeu à tentação de ser Iracema; ela é a Iracema pelo filtro de outra mulher com toda uma bagagem própria de experiências. E assim ganhamos todos. Flores. Que a Arte semeie nas nossas vidas e que nos é devido regar, multiplicar e distribuir.

HUDSON ANDRADE
17 de dezembro de 2008 AD
16h30

Vaqueiro (a), substantivo: (01) Aquele que vai no vácuo dos outros para ingressar sem custo em festas, teatros, cinemas, jantares, caronas, etc...; (02) cara de pau... Vixe! A lista é extensa!

dançAmemóRiaTEatro

Em dezembro de 2008 o Instituto de Artes do Pará (IAP) promoveu o Circuito das Artes, apresentando o resultado de suas bolsas de pesquisa envolvendo artes cênicas (dança e teatro), musicais, plásticas, audiovisuais, literárias e de expressão da identidade. Um incentivo à produção artística local e que leva ao público totalmente de graça (para alegria dos vaqueiros* de plantão!) espetáculos nos mais diversos ambientes do IAP.
Do bafafá generalizado que ouvi dos muitos trabalhos, pude assistir quatro, resultados de amigos queridos e, acima de tudo, profissioais das artes cênicas: o ator e bailarino Ronald Bergman, o diretor e novamente ator Miguel Santa Brígida e a atriz, cantora, diretora e dramaturga Ester Sá. Três trabalhos absolutamente distintos, inscritos oficialmente em bolsas de dança (os dois primeiros) e teatro, cujos resultados são a mostra de uma arte plural e ousada que rompe os tênues e vaidosos limites entre as diferentes formas de expressão.
Assisti ainda Muragens - Crônicas de um muro, animação em 2D sobre o cotidiano do entorno do Cemitério da Soledade, de Andrei Miralha. Sobre o cimento e o limo do cemitério, feirantes, amantes, ladrões, moradores de rua, crianças, desfilam seu dia-a-dia, seus imprevistos, o trabalho exaustivo e diário que não prescinde da sesta quando o calor aumenta e por poucos instantes a alma voa livre. Trabalho de excelente qualidade, poeticamente construído e maravilhosamente musicado. Tomara vare mundo!!
Teatro é um ou mais atores em cena, dando falas e executando marcas? Dança são bailarinos, ou dançarinos em coreografias que expressam sem palavras o que se quer dizer? E contar histórias de vidas alheias? Em que categoria encaixar os rodopios do Mestre-sala e sua Porta-bandeira? e se eles falarem, isso é teatro?
Dinamismo e inconformismo devem ser palavras sempre presentes no artista e todos os grandes (não necessariamente bons nem sempre belos!) gênios foram os que subverteram a ordem das coisas e provocaram olhares diferentes sobre o óbvio.

As próprias origens e a sabedoria e cultura popular inspiraram Negra Memória, experimentação cênica em dança de Ronald Bergman. A sala de dança do IAP se transformou num labirinto escuro onde na procura de um preto retinto e tinhoso, Bergman encontra a religião afro, seus sincretismo, o açoite, a cachaça, a dança, o banzo de seus antepassados e o colo materno, porto seguro.
Acompanhado de registros sonoros gravados e música ao vivo o ator-bailarino avança no claro-escuro que é tanto a cena quando seu resultado inscrito em dança mas que se utiliza da poética da fala - ponto que precisa ser amadurecido.
Negra Memória é uma celebração do Si, convidando todos a descansar a cabeça no colo da mãe África-útero-Arte.

quinta-feira, janeiro 08, 2009

EU 19


Aceitei o turno da noite com a gratidão de um refugiado. Chegava com o sol se pondo,quase uma hora antes do expediente e saía no azul-marinho-azul-celeste das primeiras horas. Protegido pelos óculos escuros, seguia para casa e depois de um banho frio, dormia até que o estômago reclamasse de fome.
Pelos bons serviços prestados, uma transferência para horário mais confortável. Recusei. Primeiro pensou-se em preguiça de topar com o entra-e-sai de gente na empresa, mas isso não parecia coerente. Então veio a suspeita da desonestidade. Averiguações feitas, nada de errado, exigi uma retratação do encarregado perante meus colegas de trabalho que eu não iria amargar a pecha de supeito nem de vítima. Ele se recusou. Então eu saio. Simples assim. Mas fiquei, uma vez que bons funcionários são tão difíceis de conquistar. Mas cá entre nós, segredou o diretor, por que diabos queres esse turno tão puxado? Gosto da noite. Simples assim!
Três anos e lá estava eu, o matinta-pereira, como os colegas brincavam. Só falta pedir fumo, completavam. Mas eu não fumava. Éramos eu, uma boa garrafa de café preto, forte, quente, meio amargo e o breu, o silêncio, as sombras que pregavam peças das quais eu ria bem voltando pra casa. Carnaval, Semana Santa, Círio de Nazaré, Natal, Ano Novo. Quantas vezes eu de boamente troquei minhas folgas pela diversão alheia?
No quarto e sala aos domingos, ouvindo fossas antigas, mudava o sofá-cama de lugar, arrumava as revistas na mesinha de palha-da-costa, meus santinhos na prateleira de metal e cozinhava macarrão, sempre com alguma receita nova copiada da TV de, sei lá, 15 polegadas, ou da internet do cyber da esquina.

A noite biologicamente convida ao sono e mesmo tendo dormido o dia inteiro, tinha horas em que os olhos pesavam e eu acordava já com a cabeça pra bater nos joelhos ou no tampo da mesa. Daí eu levantava, tomava café e fazia uma ronda. São tantas horas e tudo está bem, eu gritava brincando, ouvindo minha voz bater nos corredores vazios e penumbrosos.
Foi num espantar de cochilo desses que eu vi a sombra. Negra, como lhe convêm, silenciosa e esquiva como devem ser as sombras. E fugidia quando o olhar se fixa onde ela estava. Acostumado ao vazio, dei um pulo derrubando mesa, cadeira e café, a mão imediatamente no revólver. À frente, um longo corredor que ia bebendo a luz da minha sala nas suas salas vazias.
Caí numa gargalhada nervosa e me recompus, mas não dormi mais a noite toda. Fui para casa com uma sensação estranha, ainda que não sendo dado a superstições. Banho frio, sono. Desencanei.
Mas no outro dia e no seguinte e no outro ainda, lá estava novamente a sombra de pé, estática, fosse no corredor principal, no refeitório, no vestiário, atrás da minha mesa, às duas, às cinco. Não dormia mais. Passava as madrugadas vasculhando os cantos com uma lanterna, a mão ridiculamente no cabo do revólver, os ouvidos atentos para os quais quaisquer ruídos viravam passos, portas abrindo, trincos. Percebi então que a cada noite a minha negra companheira aparecia em um local cada vez mais distante da minha sala, como que tentando que eu a seguisse, até que eu cheguei ao velho depósito do qual nem eu tinha as chaves. Ao olhar pelo buraco da fechadura antiga, um vento gelado pareceu sussurar meu nome. Eriçado, corri de volta e lavei demoradamente o rosto na pia do banheiro, acendi todas as luzes, pus a arma sobre a mesa, queimei a língua com café. Pela manhã estava destruído.
Ainda assim falei com funcionários antigos, fucei anotações, fui à sede do jornal local e mesmo ao cartório: Nenhum acidente, ou vítima, ou catástrofe. O prédio fora erguido onde antes havia uma floricultura que fechou depois que os donos voltaram para Holambra.
Naquela noite eu apaguei novamente as lâmpadas, empunhei a lanterna e segui o longo corredor, o silêncio e a penumbra criando fantasias na cabeça. Em frente ao velho depósito, parei. O cadeado era antigo,mas resistente, a porta estava chaveada; as dobradiças pareciam ainda mais velhas do que a madeira do caixilho. De súbito, meti o pé na porta, arrancando-a dos seus encaixes. Entrei tateando um interruptor que não acendeu luz alguma. Com a lanterna, vasculhei o espaço. Vazio. Completamente vazio. Foi ao virar para a porta que eu a vi, desenhada contra a luz mortiça do corredor. Dei um grito, recuei dois passos e deixei cair a lanterna que apagou assim como as lâmpadas de fora.
Na completa escuridão, com o coração aos saltos e a respiração curta, tateava à procura da lanterna e da saída. Então a mão suave de alguém tocou a minha. Fiquei imóvel, mas nem pensei em reagir ao toque. A despeito da completa ausência de luz, o rosto era plenamente visível - os traços finos, lábios carnudos, olhos brilhando com uma paixão incontida. De pé frente à frente senti um ardor no peito tão forte que foi impossível não chorar. Aquela mão macia tocou meu rosto e seus lábios sorriram tudo.
E com um som de besouros as luzes do corredor se acenderam, piscando, e a lanterna iluminou meus pés. Da minha negra sombra nem sinal.
E um vazio foi tomando meu coração que até há pouco transbordava de algo bom.
Caminhei até a porta, recoloquei-a nos caixilhos como pude deixando a luz do corredor lá fora. Pensei sentir um leve roçar no meu ombro direito e com força exagerada quebrei a lanterna contra a parede.
E uma noite calma e plena me tomou inteiro.

Hudson Andrade
07 de janeiro de 2009 AD
17h30

segunda-feira, janeiro 05, 2009

A MÃO E A LUVA (parte II)

Belém, um dia, um mês, 2008 é uma construção coletiva por excelência. Dividiram a direção Olinda Charone, Cesário Augusto e Miguel Santa Brígida, cada um imprimindo seus próprios registros na encenação do espetáculo, com destaque para o Teatro do Movimento de Santa Brígida escavado no corpo do elenco e em imagens utilizadas em outros espetáculos (próprios e da Escola), perigosamente repetidos.
Como todo espetáculo dessa natureza o resultado é irregular, variando com o ator e com a cena na qual ele está inserido. Todos precisam ter seu espaço e devem utilizá-lo com afeto, tendo por sua vez a direção o cuidado de dividir esse bolo em fatias mais ou menos generosas, conforme o rendimento individual e o efeito que se deseja obter. O produto no caso é muito bom: musical, delicado, emocional, apaixonado, melancólico, engraçado e, sobretudo, prazeroso para quem assiste e para quem executa.
Calçando delicadas luvas a direção ordenou essa sempre complicada colcha de retalhos e costurou tudo com precisão. As falhas estão no exagero de algumas atuações – que os entendidos chamariam de overacting –,na obviedade de outros – que são bons no que fazem, mas seriam melhores no terreno movediço do desconhecido –, no texto panfletário e raso de muitos e em um ou dois toques de mediocridade. O enorme elenco (mais de dez pra mim é um pesadelo!), no entanto, parece coeso e consciente do que estão propondo a partir da idéia central do espetáculo construído sobre sentimentos e impressões dos próprios atores num exercício que certamente exigiu doses quimioterápicas de confiança e cumplicidade.
Fugindo também da caixa preta, Belém... nos levou a um MABE (Museu de Arte de Belém) belíssimo, sob um céu cobalto e fresco, numa acústica impressionante.
É pena que esses trabalhos raramente retornem. A dificuldade de reunir novamente o elenco, entre outras questões inviabilizam essas remontagens.
Parabéns aos diretores de Paraíso Perdido e Belém, um dia, um mês, 2008 por extrapolarem os espaços cênicos desta cidade que insiste em se fechar em si mesma como se já tivesse de si o bastante.
Parabéns aqueles cuja visão alcança além das suas mesas de gabinete e percebe que preservação passa por cuidado e cuidado nasce do conhecimento que faz com que eu crie laços e carinhos com os espaços que me cercam.
Parabéns aos que foram para a cena, mesmos os que jamais serão atores ou atrizes. Valeu a ousadia, mas esse, como qualquer outro oficio, exige muito mais do que vontade de fazer.
Os dois espetáculos também foram resultado das turmas de cenografia da ETDUFPA que recebe os parabéns por expandir seus trabalhos tablado afora.
Apenas soaram os três toques. Merda!!!

HUDSON ANDRADE
15 de dezembro de 2008.
12h45

A MÃO E A LUVA

Final de ano e a Escola de Teatro e Dança da UFPA apresenta o resultado de seus cursos e oficinas. Dos tantos trabalhos apresentados assisti dois: Paraíso Perdido, dos alunos de teatro juvenil e Belém, um dia, um mês, 2008, da turma do segundo ano 2008 do curso de formação de atores.

Paraíso Perdido foi apresentado em novembro passado. Baseado na obra de John Milton e dirigido por Cláudio de Melo, o espetáculo reuniu um elenco extremamente jovem e para contar a história de um anjo que vem à Terra, propôs utilizar um dos locais mais bonitos de Belém, o Cemitério da Soledade. Simbolicamente o uso desse espaço que remete à morte queria dizer, às avessas, do nascimento humano desse anjo, assim como do surgimento de mais um grupo de atores. Mas a ousadia pára por aí. Noves fora as dificuldades de cessão do espaço – na ainda atrasada mentalidade local de que é melhor deixar apodrecer e cair do que utilizar – e de questões com o público desacostumado ao uso de locais não convencionais e o ingresso em quaisquer lugares com cadeiras não numeradas (aquela correria desembestada e grosseira pela primeira fila, para quem não entendeu!), o soledade foi, quando muito, uma moldura. E que moldura! Enquanto um cordão de isolamento humano barrava o acesso à área da apresentação, caminhei um pouco entre os túmulos com um milhão de imagens na cabeça para aquele início de espetáculo que não poderia ser menos do que a proposta do espaço. No entanto a encenação citada poderia ter sido feita em qualquer cemitério, na própria ETDUFPA e mesmo em qualquer teatro. Valeu por ter quebrado aquele silêncio todo e abrir portas para novas tentativas.
Quanto a encenação há dois pontos principais a ser considerados. Primeiro, a imaturidade dos atores e, segundo, a mão pesada da direção. Falo imaturidade de tudo: do teatro, da vida, da formação acadêmica e ate mesmo de valores. De formação para entender para que servem pontos e vírgulas; do teatro pela postura, pela fala, pelas intenções; de vida e de valores para perceber a profundidade filosófica e as implicações do texto do Milton. Claro que estou sendo generalista e reconheço que há exceções. Boas, fruto de talento e dedicação de uma arte que carece tanto de exercício físico quanto intelectual em porções superlativas. Infelizmente talento não é tudo, sequer o princípio, mas e um bom caminho.
A direção: Cláudio de Melo deveria ter optado por outro texto, pra começo de conversa. A grande questão envolvendo essa opção é exatamente a imaturidade supra citada do elenco. Quer dizer que para atores jovens eu deva dar sempre água com açúcar e textos medíocres? Nada disso! Mas para grandes passos, longas pernas e esse elenco em particular teria rendido muito mais em outra proposta. E teriam rendido muito mai com – sem trocadilho! – mais asas. Optando por um modelo de direção mais rígido, Melo acabou tolhendo seus atores que por sua vez não tinham conteúdo para contrapropor. Paraíso Perdido cai num formato carente de real ousadia e do qual o teatro contemporâneo busca fugir de forma até meio exagerada, caindo para o extremo oposto onde talvez nem o diretor saiba dizer o que quis dizer. Diretor, aliás, é o adjetivo que realmente cabe nesse contexto e que seria adequado a um grupo mais experiente e por que não dizer, mais tradicional.
Aqueles meninos e meninas devem guardar essa experiência com carinho, cientes de que elas representam um primeiro passo num longo aprendizado. É evidente o esforço feito nessa empreitada e minhas palavras irão certamente contra suas impressões pessoais quanto ao resultado obtido. Tomara! Assim eles não desistirão,mas espero que eles realmente pensem sobre o assunto e invistam pesado na sua construção cênica, voltando quem sabe aquele cemitério e aquele paraíso com propriedade e sem medo da queda.

HUDSON ANDRADE
15 de dezembro de 2008.
11h30