Batman é meu herói preferido dos tempos em que, encarnado por Adam West dava Socs!, Pans! Tuns!, em vilões com figurino duvidosos. Só fui retomar, ou incorporar, o gosto quando Burton lançou Batman, em 1989. Então foi uma enxurrada de revistas, séries, botons, camisetas, figurinhas, tudo, trancafiados depois de Batman e Robim (EUA, 1997) e porque esse negócio de coleção gasta uma boa grana. Hoje os meus olhos de fã compartilham a imagem do Homem Morcego com uma visão crítica e pretensiosa do cinema e da arte em geral.
Batman: O Cavaleiro das Trevas (Batman – The Dark Knight, EUA, 2008) é um ótimo filme. Suas quase três horas de duração mostram que Nolan queria algo além do comercial. O diretor construiu seu filme com calma, desfiou pontas, desfez nós, abriu brechas e amarrou uma história que grita por uma continuação, mas pode viver perfeitamente sem ela. O grande barato do filme é que Batman é o protagonista oficial e quando voltamos a atenção para ele nos desviamos dos personagens secundários. Enquanto expressão artística é a chance de dar aos outros atores uma real função na trama, alicerçando o enredo em vários pilares seguros; enquanto mitologia mostra o Batman (Christian Bale) como a infantaria que abre caminho para o verdadeiro exército: a honestidade de Jim Gordon (Gary Oldman), a sensatez de Alfred (Michael Caine), a obstinação de Harvey Dent (Aaron Eckhart), a nobreza de Rachel Dawes (Maggie Gyllenhaal) e, claro, a loucura do Coringa (Heath Ledger), o contrapeso, o caos e, apesar de representar o mal, a luz sobre quem realmente é o justiceiro que vigia a cidade de dentro da noite.
No filme de Nolan o Coringa é imenso! Em parte pelo proclamado processo de construção do personagem, pela impressionante entrega de Ledger, mas também porque o roteiro põe em seus atos e falas o destino de um mito e de toda Gothan. Sozinho, ele instaura a desordem na já conturbada vida da cidade, enreda todos numa teia intrincada e, não sem a devida e inteligente resistência, vai ganhando terreno até chegar ao seu real objetivo: Batman. Não para detê-lo, mas para justificá-lo, porque só assim sua existência é viável. No entanto, Heath Ledger não merece o Oscar, pelo menos não até sabermos quem concorreria com ele. Há grandes méritos no trabalho do australiano nascido 29 anos atrás e morto no último 22 de janeiro por overdose acidental de medicamentos. Sua propalada indicação ao prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood é motivada claramente pela comoção em torno do trágico incidente e pela propaganda gratuita (?) para a Warner que, ao negar os efeitos devastadores de interpretar o Palhaço do Crime sobre a morte de Ledger, só reforça a lenda de um personagem maior do que o seu intérprete.
O Coringa nasceu das mãos de Jerry Robinson* em parceria com os criadores do Batman, em 1940. Robinson afirma que originalmente ele era um palhaço metido a gênio do crime e sua caracterização remetia a traquinagem. O Coringa psicopata e maldito foi ganhando corpo e crescendo posteriormente. Ainda assim o cartunista não acredita que interpretá-lo perturbe os atores, como afirmou Jack Nicholson que viveu o algoz do Batman no longa de Burton. Para Robinson, César Romero (1907 – 1994) que interpretou o vilão na série de TV dos anos 1960 é quem fisicamente mais se aproxima da sua criatura, mas faz coro com os amigos de set e o diretor Terry Gilliam – para quem o ator trabalhou
A loucura salta aos olhos
Ao mergulhar nas sombras, Batman nos dá a verdadeira dimensão da palavra herói.
HUDSON ANDRADE
Belém, Pará, 30 de julho de 2008 AD. 12h50
(*) Conforme artigo de Rodrigo Fonseca, publicado
NOTA: Alguns links remetem a informações