sábado, outubro 28, 2006

POUCOS, LOUCOS E AFINS...

Anualmente, uma penca de novos atores são regurgitados pela Escola de Teatro e Dança da UFPA, em seu curso regular de formação. Outros tantos participam das oficinas do Curro Velho, Casa da Linguagem, Unipop, etc...
E cadê toda essa gente?
Em meu processo de seleção de elenco para nosso espetáculo O Glorioso Auto do Nascimento do Cristo-Rei, foram muitos contatos, umas tantas tentativas-esperas e muitos nãos. É certo que a gente tem um conhecimento limitado e eu não sei quem é quem de todos os que concluíram o curso na ETDUFPA depois de mim, mas igualmente não existem mecanismos para que se possa ter acesso a esse tipo de informação: um banco de dados real, ou virtual, um espaço de relacionamento, nada!
Fica parecendo que nada acontece nesta cidade e que se os teatros estão às moscas, é porque não há o que se apresente neles. Ou, como diz o regulamento de nossa mais famosa casa de espetáculos, o Teatro da (mais do que devia) Paz: não há produções cujo nível esteja compatível com o espaço solicitado.
No entanto, a cidade possui muitos e bons grupos profissionais ou se profissionalizando, lutando essa luta inglória de se firmar no cenário artístico local. Gruta, Cuíra, In Bust, Atores Contemporâneos são desses artistas que já viraram referência em Belém. Existem vários outros nomes (aliás, cada nome mais absurdo do que o outro. Vamos combinar!) buscando seu lugar ao sol.
É com muita satisfação que eu vejo a Companhia de Teatro Madalenas em ação. Domingo, 22, no Teatro Experimental Waldemar Henrique, estive assistindo a versão 2006 de A Aurora da Minha Vida, espetáculo de conclusão de curso da turma Madalenas em 2001. Dos tantos atores que entraram na turma, um pequeno núcleo se firmava (é sempre assim, não é?!), dando origem ao Madalenas, referência à montagem de 2000, Paixão Barata e Madalenas, remontagem de Em Nome do Amor de Luis Otávio Barata, com a direção de Wlad Lima e Karine Jansen. A Aurora volta novamente com a direção de Miguel Santa Brígida, novo elenco e uma muito mais dinâmica e agradável leitura do texto homônimo de Naum Alves de Sousa. Em julho passado, o Madalenas promoveu um espetáculo-manifesto-denúncia pelas ruas de Belém. Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua pretendia chamar a atenção para esse descaso com a arte (texto recorrente, não?!), falta de patrocínio, de espaço para ensaios e apresentações – o grupo, assim como a Nós Outros (Fica Comigo Esta Noite, 2002), utilizou o Palacete Bolonha (mas isso são outros governos. Está tudo proibido ou dificultado agora!) como cenário para À Flor da Pele (2002), uma criação coletiva que investiu na escrita e direção próprias da companhia, o que em si é extremamente louvável pela disposição de amadurecer seu fazer teatral, bebendo em fontes seguras, mas andando com as próprias pernas.
N´A Aurora existe todo um trabalho de afirmação do artista múltiplo, que atua, canta, dança, reinventa-se em diferentes papéis dentro da mesma trama, esmiúça o texto e as intenções mínimas do dramaturgo. É claro que existem falhas. Sempre há. O que não significa falta de talento, ou fealdade, mas processo, percurso, experimentação. Desejo! Neste domingo o grupo oscilava entre a ansiedade de uns, a falta de ritmo de outros, uma composição mais precisa e o tipo que ajuda na criação do personagem, pecando às vezes no humor fácil que perde a acidez da escrita de Naum e esse fogo de ser ímpar.
Recomendo a todos assistir A Aurora da Minha Vida e aplaudir o Madalenas, pois é essa respiração e olhares da platéia e o som das suas palmas que criam a energia cinética (adorei isso, Cleciano!) que nos movimenta.
Merda, Madalenas! Merda para todos Nós!

SERVIÇO:
A Aurora da Minha Vida, de Naum Alves de Souza. Direção de Miguel Santa Brígida. Com: Michele Campos (a Adiantada), Saulo Sisnando (o Quieto), Leonel Ferreira (o Puxa), Flávio Furtado (o Órfão), Marta Ferreira e Liliane Garcia (as Gêmeas), Davi Mansour (o Bobo) e Dina Mamede (a Gorda).
Teatro Waldemar Henrique (Praça da República), dias 26 e 27 de outubro e 02 a 05 de novembro de 2006, sempre às 20h00.
Ingressos: R$ 10,00 (meia para entudantes).

terça-feira, outubro 17, 2006

EU LHE DIGO QUE AINDA CHEGO LÁ!

15 de outubro, 19 horas. Cruzo o palco do Maria Sylvia Nunes e atravesso o cenário do espetáculo Roda Chico, do Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare, que já estava em cena. Mais uma vez Chico Buarque cede sua poesia, música e dramaturgia para o teatro, numa parceria de intimidade que gerou inúmeros rebentos. De uma célula de 15 minutos, os Clowns de Shakespeare construíram um espetáculo de quase uma hora, perpassando por todos os Chicos. O espetáculo foi apresentado pelo projeto Palco Giratório, do SESC. De grátis! Gostei muito do que vi. Minhas ressalvas estão por conta de um dos atores que me pareceu frouxo em relação aos demais – o que é um prejuízo mais ao próprio do que ao trabalho – e a falta de um roteiro mais linear, que fez com que eu sentisse o espetáculo meio fragmentado, recortado demais. Luz “de cima”, música ao vivo e atores tocando, cantando, e dançando. Muito bom!!
Com 13 anos de atividades e quatro espetáculos de repertório: Muito barulho por quase nada, Roda Chico, Fábulas e O casamento, a companhia surgida em Natal se considera um grupo de pesquisas e afirma que seus espetáculos querem traduzir uma celebração da vida. A Companhia Teatral Nós Outros também se considera um grupo de pesquisa e vem investindo nesse conceito. Mas o que significa isso? Debruçar-se por várias horas diárias de muitos meses sobre o objeto de estudo e desse caldo extrair a matéria-prima de um espetáculo que antes de ser a meta é o produto mesmo dessa pesquisa. Eis minha definição, que contempla três conseqüências: (01) o encaminhamento para uma determinada linha de atuação, quase uma especialidade, já que o aprofundamento da matéria estudada acaba por impregnar todos os trabalhos realizados; (02) a harmonia e consolidação do grupo em si, que reunidos em torno de um objetivo comum tende a se tornar mais coeso; (03) a formação do ator, que desenvolve várias habilidades enquanto busca atender as exigências de cada novo trabalho, aproximando-se do profissional multifacetado que eu chamo Ator (ou Atriz, claro!), que interpreta, canta, dança, toca, assovia e chupa cana. No caso da Companhia Teatral Nós Outros esse investimento foi em música, cenografia, adereçagem, figurino e performance, orientando o processo de criação de O Glorioso Auto do Nascimento do Cristo-Rei a partir de sua matriz popular (neste caso, autos, pastorinhas e folias de reis) que já havia servido de base para nosso segundo espetáculo, Medéia, a tragédia do feminino ultrajado, que contava a partir da tragédia de Eurípedes as desventuras de uma trupe itinerante.
Ao contrário de anos atrás, eu creio que ser ator é um processo longo de estudo, leitura, treinamento e se a criatura, além de tudo isso, tiver talento, aí fica lindo! A Nós Outros trabalha com gente bastante inexperiente e as oficinas que oferecemos visam exatamente capacitar o artista para o seu ofício. Infelizmente não é só o tempo de atividade que separa os Clowns da Nós Outros. Dentro de uma realidade que eles consideram recentes, seus integrantes vivem de sua arte, alguns quase exclusivamente da companhia. Claro que não é ótimo, mas é confortável. O resultado imediato disso é a qualidade das suas produções, que podem ser meticulosamente trabalhadas ao longo de sete, nove meses, com seis horas diárias de atividades, de segunda a sexta. Essa autonomia permite ainda que o grupo participa de projetos com o Palco Giratório – o que é ainda impensável para nós – e que os leva ao intercâmbio com outros grupos, culturas, experiências e linguagens.
Como a franca maioria dos artistas em Belém, ainda temos necessidades de sobrevivência. No entanto, o que mais nos vitima é uma falta de compromisso-entusiasmo-humildade que grassa nesta cidade e que vai minando a cena local, enfraquecendo seus grupos, dando uma dita autoridade aos administradores de teatros e logradouros públicos que chegam a inviabilizar produções amadoras. De tudo isso o mais grave é a postura de pretensos artistas que tratam teatro como hobby-terapia-casa-da-mãe-joana. Sem horários, prazos, dedicação, responsabilidade (consigo e com os outros), abandonam projetos ou, pior, não os abandonam, causando sérios prejuízos a sua conclusão. Racca!!!
Parabéns aos Clowns de Shakespeare pelo trabalho, obrigado pelo agradabilíssimo bate papo (e paciência! Cada pergunta!) e muitos mais anos de atividades para vocês.Quanto a Nós Outros, a despeito de todos os quiprocós, eu, meus sócios e colaboradores comemoraremos bodas de ouro e escreveremos nossos nomes do surrado pandeiro de Dionísio. Porque parafraseando meu querido Quintana: “Todos esses que aí vão, atravancando meu caminho, eles passarão, eu passarinho.”

PENSO... E DAÍ?

Dia desses me disseram que depois eu comecei a mexer com esse negócio de arte, fiquei (mais) antipático (!!). tal afirmação seguiu a pergunta “do-que-é-que-tu-gostas-afinal ?!” Cara! Tipo assim... muita coisa e coisa e tals!
A questão é que se eu me rasgo por algo, vêm logo me perguntando o que-é-que-isso-tem-de-mais? Teve gente legal que disse que talvez não tenha entendido tal filme, livro, ou peça e por isso não tenha gostado tanto quanto eu. Teve gente não tão legal que gritou que jamais veria qualquer coisa por mim indicada e teve gente amorosa que dizque...
(Suspiro, coço a testa, cruzo as pernas.) Vamos lá!
Primeiro. Sou um aprendiz das artes e só há pouco tempo decidi teorizar mais sobre isso. Minha vivência é pouca, mas rica, porque foi feita a braços com gente do caralho, como Wlad Lima, Karine Jansen, Walter Bandeira, Miguel Santa Brígida, Aníbal Pacha, Adriano Barroso e Aílson Braga, entre outros, mais ou menos (in)diretamente, e é pela vivência que digo e faça as coisas que. (jeito de escrever imitado do Caio F.). Logo, estou mui longe de ter a verdade dos fatos, o que não me impede de, por lógica e aceitação, expressar minhas idéias.
Assim como todos nós!!
Segundo. Mente todo aquele que dizque trava contato com uma obra artística de maneira indiferente. “Eu sento no cinema e desligo o cérebro”, “fui lá só pra me divertir”, “tá todo mundo lendo, oras...”. Balela! Tanto que a criatura gosta ou não do que viu e pra isso precisa praticar um juízo de valores. Ela pode até não dizer que gostou porque a luz, o enquadramento, a técnica tal, o processo criativo do ator-diretor-dramaturgo, a etnocenologia... mas se ela gostou (ou não), então a Arte mexeu em algo que é própria dela. E a Arte é isso: como uma enzima que cataliza certos processos emotivos. O mecanismo enzimático segue regras. Já a emoção despertada...
É claro que fiquei mais crítico! Não é isso uma conseqüência do estudo e do amadurecimento? É possível que minha natureza ácida tenha igualmente recrudescido, mas e daí?! O Jabor pode por que é famoso e fala no Jornal da Globo, mas eu não?! Me compre um bode!!!
Não estudei para ser crítico (algum crítico o fez?!), mas sei muito bem que gostei de Transamérica pela composição de personagem feita por Felicity Huffman, que A Dama na Água tem o talento do Paul Giamatti para segurar seu ritmo perigosamente spilberguiano (isso é uma expressão pejorativa), que Silent Hill é legal, mas tão clichê que só seria bom se não o fosse e que se não contasse com as interpretações do Antonio Calloni, Bianca Comparato e meninas, o desesperançado final de Anjos do Sol faria pensar numa matéria sensacionalista do Datena.
Sinto muito, mas me é impossível dizer que-gostei-não-gostei.
Espero que pelo menos meus comentários colaborem para instigar perguntas e desejar respostas (presunçoso?), como, abençoadamente, bons amigos por sua vez fizeram comigo.

NO MÊS DE OUTUBRO EM BELÉM DO PARÁ

Quando chega outubro, Belém muda. Transborda de gente sem chegar a ser cosmopolita; fica ainda mais alegre, iluminada e risonha. A cidade se agita por todos os lados porque é chegado o Círio de Nazaré, a maior procissão religiosa do Brasil e uma das maiores do mundo.
Por Belém ainda engatinhar nessas coisas de metrópole, tudo por aqui tem um jeito diferente. Podemos ver ainda uma contrição maior que o interesse puramente turístico, um fervor, que faz dessa quinzena uma verdadeira festa.
Não sei quem inventou esse negócio de natal dos paraenses. Nem entendo direito o que isso quer dizer, mas acho que não concordo muito. Se festejamos Maria, não deslocamos nossa atenção das comemorações de final de ano – e quem poderia escapar de festejos cada vez menos religiosos e desplugados de seu sentido de fraternidade e blá-blá-blá? Acontece que damos ao Círio o status que ele merece e à Maria o respeito que lhe é inalienável. Para além do trabalho de todo um ano da diretoria da festa, vemos o povo num burburinho, preparar-se para o segundo domingo de outubro como para o Grande Dia. Roupa nova, reserva de dinheiro pro arraial, as comilanças, votos, camisetas, fitinhas e seus três nós de promessas. E as promessas! Ah, as promessas e as graças alcançadas. Que de maior existe nessa festa que a fé do nosso povo a caminhar preso a uma corda, de joelhos, cruz aos ombros, casas e barcos à cabeça, vestir-se de anjo, cunhar formas de cera, espremer-se por quatro quilômetros de um calor que não há mangueira que dê vencimento? Colar o rosto no dorso desconhecido e suado, ou simplesmente parar à passagem da berlinda enfeitada de flores e, palmas ao alto, fechar os olhos no pedido, no agradecimento, no louvor?
É a fé que dá às agora tantas romarias o seu real significado! Sem essa devoção, não haveria Círio. É uma demonstração de religiosidade que extrapola os limites dos dogmas formais e coloca junto todo o povo.
E apesar desse negócio de fé não ser lá muito racional, não nos esqueçamos que é ela que cura, que liberta, que dá o pão e o teto. Afinal, não dizia o Cristo “Tua fé te salvou!” e só então operava o “milagre”?
Tenhamos, pois fé. Se não em Maria, em quem ou o que quer que seja. Não deixemos nossas vidas na esterilidade das equações matemáticas!

quarta-feira, outubro 11, 2006

QUANDO EU MORRER QUERO UMA FITA AMARELA

O Auto do Círio é uma celebração da vida!
Vida que é a fé do povo paraense na devoção à Maria.
Vida que é o ofício do ator. (sobretudo numa terra sem política cultural.)
Vida que é o canto, a dança e a performance do artista em louvor à Virgem de Nazaré.
Em 2006 a falta de patrocínio que viabilizasse uma produção digna dos artistas e do público do Auto do Círio emudeceu as ruas da Cidade Velha. Mas um grupo decidiu reagir. Gritar da infâmia e do despropósito desse buraco. Fazer ver que sempre se pode produzir algo e que a falta de dinheiro não é justificativa para a falta de arte!
De fato não é!!
Cientes de que não realizavam o Auto do Círio e respeitosos (!) na sua manifestação, o pequeno grupo percorreu quase o mesmo percurso do cortejo original. Seus textos e músicas perguntavam: por que?
Foi doído assistir a essa manifestação. Confesso que não fiquei até o final, quando normalmente a imagem de Nossa Senhora sobe aos céus carregada de balões – sempre o momento mais tenso e emocionante para mim. Não podia não ver isso. No entanto, o que mais pesou foi o tom funéreo da procissão, o preto, as lamentações. Como eu disse, o Auto do Círio é uma celebração da vida e qualquer manifestação feita por ele também deveria ser. Minha opinião continua sendo que o melhor protesto seria o silêncio; deixar o normalmente colorido e iluminado trajeto do Auto vazio e calado. Fazer sentir no peito de todo mundo essa ausência.
Há quem não concorde!
Assim como queremos lembrar nossos entes queridos como eram em vida, honraríamos muito mais – não o Auto do Círio em si, mas a Arte – se essa manifestação fosse tão alegre quanto o próprio Auto é! Sob a direção (ou coordenação/orientação) do Sr. André Lobato, o Kaveira, o manifesto se tornou uma extensão para a rua das performances bizarras da sua boate, a Mystical. Crânios, velas, choros: estava tudo lá, soturno e pesado como nosso espetáculo nunca foi, ou será. Não posso deixar de pensar em alguma auto-promoção.
Foi uma noite dolorosa, que poderia ter sido evitada, ou melhor, conduzida de forma bem diferente!
Àqueles que protestaram – muitos deles amigos queridos –, o meu respeito. Ao ato em si, meu desagravo. Ao Auto do Círio e a todos os que o produzem, executam e assistem, a minha consternada e agora envergonhada cuíra de que 2007 não demore a chegar.
Até lá!!!

segunda-feira, outubro 02, 2006

É PRECISO FAZER DIREITO!

No último dia 24 estive na Estação Gasômetro, no Parque da Residência assistindo a Chico Xavier: exemplo de amor, espetáculo teatral criado por jovens do GEAC – Grupo Espírita A Voz do Consolador. A partir de algumas referências retiradas do livro do Marcel Souto Maior, As Vidas de Chico Xavier, a peça se propunha a mostrar tanto a vida daquele que é considerado o maior médium brasileiro e mais a importância do trabalho que ele desenvolve pelo Espiritismo e no amparo a tantas almas desta e da Outra Vida que pelo seu concurso obtiveram conforto e instrução.
Sob este aspecto o espetáculo é muito bem sucedido. Na sua função evangelizadora, dá o recado. Louvo o grupo pelo apoio recebido, coisa que não é absolutamente comum por estas bandas, onde a pretensa preservação da pureza doutrinária criou um certo hermetismo. Recentemente no Theatro José de Alencar, em Fortaleza, Ceará, aconteceu a IV Mostra Brasileira de Teatro Transcendental, reunindo espetáculo com temática espiritualista. Foram 06 trabalhos apresentados entre os dias 16 a 20 de agosto. Enquanto isso, no Parazinho, as canções utilizadas nos grupos de evangelização infantil ao EIMEP (Encontro Intensivo de Mocidades Espíritas do Pará) ainda são (quase) as mesmas quando da inauguração de sede da União Espírita Paraense.
Não obstante é preciso entender que existem várias formas de se divulgar uma idéia. Um ensaio, uma tese, uma palestra, uma aula. E o teatro. Cada uma guarda suas próprias características. Assim o teatro. A inexperiência do grupo nessa tal carpintaria teatral é evidente. Esse não é o problema. O problema é levar à cena um produto absolutamente inacabado.
A arte do teatro não é fruto de um talento místico – ainda que talento pese! Não existem atores ou atrizes mediunizados no palco, vivendo outras consciências. Existe a pessoa que através de muito trabalho, estudo, treinamento, análise de técnicas e troca de experiências constrói a sua forma particular de ser ator, de ser atriz.
Dizem que a arte deve ser o Belo promovendo o Bom. Muitas obras citam a corrupção da arte pelo hedonismo humano e a descrevem como uma musa combalida e moribunda sob o peso da nossa impudência. Particularmente creio que a Arte, citando Legião diria: Que tenho eu contigo, Jesus de Nazaré?! Ou com o Buda, ou com quem quer que seja? A função da arte é fazer pensar. Expor os fatos. Dia desses me diziam “Cidade de Deus é um filme muito bom, mas tem muito palavrão, porra!”. Limitei-me a perguntar como é que ele pensava que os traficantes deveriam se expressar. Silêncio. Claro! Imagine-os cheios de galanteios e rapapés. Que seria de sua mensagem? Se não é pra ter palavrão, então não se faz o filme e, por conseqüência, não se discute o caso. Compare-o com sua versão light, Cidade dos Homens, leitura família (e quase Disney) que obviamente tem sua mensagem, mas nunca o mesmo impacto.
E o que é Belo? O que é Bom? Maria Clara Machado já dizia em seu Tablado que não escrevia lição de moral para as crianças em seus textos. Ninguém gosta de lição de moral! Ela dizia o que devia ser e cada um avaliava conforme o peso dos seus próprios valores.
Mas voltando aos meus amigos do GEAC, insisto em que eles persistam nesse grupo, mas que encarem o teatro como trabalho, um ofício árduo. Que estudem e busquem uma dinâmica tal que tudo o que eles querem dizer esteja lá, mas sem a preocupação de agradar, de fazer feliz, de provocar cizânia, de crucificar. Observem na cara da platéia aquela sobrancelha erguida, o ar de dúvida, o sorriso de satisfação da conclusão obtida (a que ela puder alcançar, não a que eu quero que seja!) e a Arte – essa deusa meio inconseqüente – lhes sorrirá e cobrirá de louros.
Pois já dizia o dramaturgo Louis Jouvet: Não há nada mais fútil, mais falso, mais vão, nada mais necessário do que o teatro!”